quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Poesia, futebol e coincidências.

Por Ricardo Lacerda


Quantas vezes, amor, te amei sem ver-te e talvez sem lembrança, sem reconhecer teu olhar, sem fitar-te, centaura, em regiões contrárias, num meio-dia queimante: era só o aroma dos cereais que amo.

Não se deve tentar entender ou interpretar poesia. Esquece isso, vamos adelante. Os versos são de Neftalí Ricardo Reyes. Conhece? Tentemos, então, o nome de guerra: Pablo Neruda, o grande poeta chileno, Nobel de Literatura em 1971, dois anos antes de morrer. As linhas aqui reproduzidas são apenas o primeiro parágrafo do soneto número 22 do extraordinário “Cem Sonetos de Amor”, escrito em 1959.

Atenção para o que ele diz logo na primeira linha: “quantas vezes, amor, te amei sem ver-te e talvez sem lembrança...” Reparem que Neruda não questiona sua paixão. O que o poeta faz é reafirmar um sentimento, destacando a capacidade de amar, apesar de estar longe – apesar de não ver ou sequer lembrar da mulher amada. Jovenzito, aos 23, Neruda foi nomeado cônsul chileno em Rangum, na Birmânia. Centenas de miles de léguas distante de seu país, jamais deixou de lembrar os costumes da terra natal. O Chile sempre foi destaque nas rodas de conversa por onde quer que passasse Neruda.

Talvez ainda mais do que o Chile, Neruda tenha amado as mulheres. Troquemos o país pelo futebol e deixemos as mulheres no mesmo lugar. O Grêmio, mais do que nunca, está enamorado por sua casa. Nela, vive a donzela cotejada. Anda tão emborrachado por esse amor que não tem olhos para mais nada. “Em regiões contrárias”, como escreveu Neruda, nosso time, quando não rasteja, cambaleia. Vez que outra, pensa em cometer adultério, mas jamais consuma o ato. Agora, a rodada 22 do Brasileiro 09 se aproxima. O soneto 22, não se olvidem, é aquele que revela a devoção a quem noutro pago ficou. Cá estamos, miles de léguas ao sul do Rio de Janeiro. E é direto da capital do Império que nos será dada a maior prova de amor.

Depois do jogo do próximo domingo, o Grêmio baixará no Pampa com a rubrica de postulante ao título. Isso mesmo. Não chamam alguns poetas de loucos? Perdón, Pablo, mas nós torcedores também somos – tal como o senhor era por Matilde quando brindou-lhe com uma centena de poemas. Nós, os loucos que aqui se quedan, aguardam ansiosamente por uma prova de amor de magnitude semelhante. Não pode ser tão difícil. Uns tem o dom transportar sentimentos à ponta da pena onde quer que estejam. Agora diga-nos, caro poeta, por que alguém escreve tão bem sua história num dia e, no momento seguinte, quando vai a outro recanto, passa uma borracha por cima de tudo?

Certas coisas, nem mesmo os mais sábios conseguem explicar. A paixão, creio, Neruda soube descrever perfeitamente. Longe ou perto, amou como ninguém. Queremos uma relação assim. O sentimento, aqui ou lá, não se termina. Precisamos acreditar que vale a pena se entregar à paixão. Precisamos acreditar que ao colocar 40 mil no Monumental fará efeito quando estiveres fazendo tuas visitas. Neruda escreveu uma bela história de amor com La Chascona, a despenteada, como chamava Matilde Urrutia. Criou versos estando longe, e com a mesma destreza de quem tem a fonte de ternura ao seu dispor, ao seu lado, servindo-lhe de incentivo. Domingo, teremos o amor correspondido. Estou convicto de que o Grêmio encarnará Neruda e levará a inspiração consigo.

O detalhe que, se não fosse tão curioso eu nem citaria, está no fato de que Matilde era amante do bardo chileno. Sim. Isso mesmo. Neruda, talvez, só tenha chegado tão longe porque amou no momento certo para amar – ainda que a água onde tenha bebido não fosse a fonte que corria em seu quintal. Reler Confesso que vivi, a sensacional autobiografia de Pablo Neruda, me voy.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Aonde queremos chegar.

Por Silvio Pilau


Mais um jogo no Olímpico, mais uma goleada. Já virou rotina. Aqui, massacramos os adversários. Infelizmente, só aqui. Não vou me delongar em mais um texto tentando explicar os insucessos fora de casa. Acho que esse assunto já rendeu o suficiente. Quero aproveitar a nova vitória para fazer uma reflexão sobre as perspectivas do Grêmio no campeonato.

Acho que todos iremos concordar que título é um objetivo muito improvável. Improvável, mas não impossível. Todos nós já vimos o Grêmio subverter as leis da física e da natureza e alcançar feitos inimagináveis, então não podemos descartar mais um troféu. Porém, é fato: está muito difícil, principalmente porque a equipe não consegue encontrar a regularidade e, no momento, outros times demonstram mais equilíbrio.

Nenhum, porém, desponta. Não há um grande bicho-papão. O líder Palmeiras vinha de quatro jogos sem vencer até superar o Inter, no sábado. O São Paulo parece ter se acertado, mas não é mais o grande time de outros anos, como comprovou a derrota para o Atlético-PR. O Inter é o time de um ano só, e esse foi 2006. E alguém acha que o Goiás realmente vai brigar pelo título?
Então, tudo indica que o campeonato vai ficar embolado até o final, o que dá chances a todos.

Mas o verdadeiro motivo pelo qual acho que o Grêmio ainda pode brigar pelo título são as partidas fora de casa. Sejamos coerentes: o time não vai ficar até o final do campeonato somando fracassos longe do Olímpico. Em algum momento, essa vitória vai sair e, assim que isto ocorrer, as partidas seguintes serão jogadas com menos pressão e mais naturalidade. Ou seja, tudo indica que o pífio desempenho deste primeiro turno não será repetido. Não digo vencer todas, mas um retrospecto ao menos razoável (digo entre 50% e 60% de aproveitamento) nesses jogos pode fazer toda a diferença.

Isso porque no Olímpico o Grêmio é imbatível. Novamente sendo realista: não vamos vencer todas dentro de casa. Uma hora, voltaremos a empatar e, talvez, até perder. Ainda assim, tenho certeza de que continuaremos com excelente campanha dentro de nossos domínios. Aí basta somar: com o ótimo aproveitamento no Olímpico e um desempenho pelo menos aceitável longe daqui, o Grêmio tem todas as possibilidades de dar uma bela arrancada e disputar as primeiras posições.

É difícil, mas é possível. Por isso, acho que não podemos torcer por uma vaga na Libertadores. Temos que pensar no título. O Grêmio deve trabalhar para chegar ao topo de tabela. Se fizer isso, o título pode até não ser alcançado, mas a Libertadores com certeza será. Porém, caso o objetivo seja apenas a vaga, ela pode escapar.

Podem ter certeza: a arrancada vai acontecer. Que ela tenha início no próximo domingo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A espada de Dâmocles.

Por Silvio Pilau


Dâmocles é um invejoso. Ou melhor, era, porque hoje já virou pó. Ele viveu em Siracusa, na Sicília, no século VI a.C. Dâmocles era amigo do rei Dionísio. Parceiro mesmo, daqueles de tomar trago junto e caçar minas pela cidade. Ainda assim, mesmo com a amizade, Dâmocles invejava Dionísio. Afinal de contas, seu parceiro era o rei, o soberano, o todo-poderoso. Dionísio tinha ao seu alcance toda a riqueza do reino e vivia somente cercado do bom e do melhor.

- Meu caro rei, você é o homem mais feliz do mundo – disse Dâmocles certa vez ao amigo. – Tem tudo o que pode desejar, na hora que quiser. - Você acha mesmo? – respondeu o monarca. - Mas é claro. Com o seu tesouro e o seu poder, você não tem com o que se preocupar. Vive uma vida ideal. Tem como viver melhor do que isso?

O invejoso insistiu no assunto por diversas vezes ao longo dos dias seguintes. Dionísio, cansado de ouvir Dâmocles repetindo a conversa, decidiu fazer uma proposta.

- Por que você não troca de lugar comigo por um dia?

Dâmocles, surpreso com a oferta, respondeu:

- Não, eu não poderia. Esse lugar é seu. Mas eu transbordaria de felicidade se pudesse experimentar, ao menos por um dia, essa sua grandiosa vida de prazeres infinitos.

- Então está feito – concordou Dionísio. – Troque de lugar comigo por um dia e aproveite tudo isso.

E assim se sucedeu. No dia seguinte, Dâmocles apareceu no palácio e foi logo cercado por criados. Estes puseram-lhe na cabeça uma coroa de ouro e levaram-no à sala de banquetes. Lá, Dâmocles acreditou estar no paraíso. A mesa era farta, repleta de iguarias e delícias variadas, vinhos requintados e o mais fino luxo. O invejoso encostou-se em almofadas confortáveis e foi servido por criados dispostos a tornar realidade cada um de seus desejos.

Dionísio testemunhava aquilo tudo sentado do outro lado da mesa.

- Ah, isso que é vida – refestelava-se Dâmocles.

Pediu, então, mais uma taça de vinho. Ainda em êxtase com tudo o que o cercava, Dâmocles levou o recipiente aos lábios, inclinando-se para permitir a melhor passagem do líquido. Ao fazer isso, empalideceu. Suas mãos começaram a tremer e toda a felicidade que antes o dominava pareceu fugir.

- O que aconteceu, caro amigo? – indagou Dionísio.

Dâmocles, evitando movimentos bruscos, apontou para cima.

- Essa espada!

Imediatamente acima de Dâmocles, havia uma grande espada, cuja lâmina brilhava de tão afiada. Ela estava presa ao teto por um tênue fio e apontava diretamente para a cabeça de Dâmocles. Pendia ameaçadoramente, como se observasse cada movimento do invejoso.

- Você não vê essa espada? – perguntou Dâmocles ao rei.

- Claro que vejo. Vejo-a todos os dias. Vivo sob sua ameaça constantemente. Ela está sempre pendendo sobre a minha cabeça.

- Como? – Dâmocles perguntou, sem entender.

- Um de meus criados pode estar me esperando atrás da porta para me matar. O povo pode começar a inventar mentiras sobre mim para me derrubar. Um reino vizinho pode começar uma guerra para conquistar meu território. Possuir tanto poder é viver com uma grande espada sobre a cabeça.

Dâmocles ficou quieto por alguns segundos, pensando no que o rei acabara de falar. Dionísio prosseguiu:

- Um rei precisa estar disposto a encarar todos estes riscos, entende?

- Entendo – respondeu Dâmocles, cabisbaixo pela lição dada. – Agora entendo. Percebo que a sua vida não é feita somente de prazeres e que um rei tem muito com o que se preocupar. Por favor, deixe-me voltar ao meu lugar.

Dâmocles nunca mais quis tomar o lugar do rei.

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A lendária história contada acima deu origem à expressão “a espada de Dâmocles”, utilizada sempre que alguém se vê diante de algum perigo iminente. Por exemplo, alguém que comanda um carro cheio de problemas está dirigindo sob a espada de Dâmocles, correndo o risco de que, a qualquer momento, alguma tragédia possa acontecer.

Contei essa história porque percebi ontem, durante a partida do Grêmio contra o Santos, que o Tricolor tem jogado os últimos jogos fora de casa sob a espada de Dâmocles. Não interessa se a atuação está sendo boa, se a marcação está funcionando ou se o adversário nada consegue fazer. Seja como estiver a partida, os jogadores gremistas parecem sempre temerosos, com medo de tomar um gol. Parecem jogar como se soubessem que a qualquer momento tomarão um golpe fatal, o que tira toda a tranquilidade e serenidade necessárias para se vencer uma partida fora casa.

Face a tal diagnóstico, concordo com os recentes comentários de que o problema do Grêmio longe do Olímpico não tem a ver com o futebol: é psicológico. Podemos não ter o melhor time do Brasil, mas nosso elenco é bem capaz de vencer fora de casa. No entanto, a pressão já está tão grande por esse triunfo fora de nosso território que o desespero também aumentou, o que se reflete dentro de campo. Cada partida é um problema a ser superado, uma ameaça a ser batida. O nervosismo toma conta e o resultado fica cada vez mais difícil.

O trabalho deve ser feito na mente dos atletas. É preciso voltar a jogar com calma, sem medo. É preciso esquecer a espada de Dâmocles. Caso contrário, em breve, ela se tornará real e a sua lâmina afiada decepará toda e qualquer esperança que tenhamos de alcançar alguma coisa ainda este ano.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Quando ele funciona, o Grêmio funciona.

Por Felipe Sandrin

Quando ele funciona, o Grêmio funciona. Victor foi o nome do jogo, conseguiu não somente dar-nos uma vitória, como também nos iludir com um resultado mentiroso. Nosso arqueiro pegou tanto que nossa zaga saiu festejada de campo: nem notamos os inúmeros erros que puseram jogadores do Flamengo diversas vezes na cara do gol.

Se o foco é vencer fora de casa quarta-feira e mandar a urucubaca pra longe, nosso futebol terá de melhorar e muito. Os 4 a 1 da última partida não corresponderam ao jogo, o time quase não criou e mostrou-se frágil principalmente na defesa, que há muito tempo eu não via conceder tantos espaços.

Porém, existem pontos a serem considerados em nosso time, que além de Victor teve como destaque nossa ainda promessa Douglas Costa: o garoto correu, criou e chamou a responsabilidade. Se levarmos em conta que ele era o único homem de criação do jogo, vemos o porquê de tantas pessoas botarem fé nele. Adílson já dispensa comentários: tenho certeza de será um dos concorrentes da posição no prêmio de melhores do Brasileirão.

A saída de Maxi preocupa e muito, não tanto pelo futebol, mas sim pela referência que o jogador representa: no sufoco, a bola vai pra área, e não temos no grupo um jogador grande que segure zagueiros e incomode dentro como ele faz.

Autuori, mais uma vez, mostrou o grande técnico que é, corrigindo falhas sem precisar botar jogadores mais agudos na equipe. O time que veio para o segundo tempo era mais defensivo; no entanto, atacou e criou muito mais.

Amanhã jogaremos contra o Santos, mas nosso principal adversário não será o clube paulista. Nitidamente, vemos o psicológico da equipe abalado por não conseguir vencer longe de Porto Alegre. Se tomarmos um gol, a casa cai, a moral desce mais ainda e a tão esperada vitória vai pro espaço de novo.

O trabalho vai ser muito mais de vestiário que de campo, é preciso ter boa cabeça, ter gana pela vitória e principalmente ter a naturalidade: futebol é feito de tabus, não perder há 11 meses em casa e não vencer fora é apenas um fato que logo se tornara estatística passada.

Temos força de grupo, e nosso time não está abaixo de nenhum em termos de qualidade: mas caso isso não baste para que acreditemos na vitória, lembremos que este é o Grêmio, e que nosso céu não é longe do inferno que estamos vivendo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Victor e as razões de Brecht.

Por Ricardo Lacerda


Saí do Olímpico com uma sensação esquisita. Apesar da elástica vitória de 4 a 1 sobre o Flamengo, nem de longe podemos falar em passeio ou banho de bola. É justo destacar a presença de área de Perea, a habilidade de Rever, e até mesmo a competência de Jonas. No entanto, a maior justiça, ainda bem, já está sendo feita exaustivamente desde que acabou a partida. Victor transcendeu o estado de inspiração. Até porque inspirado ele já é, ao natural. Neste domingo atípico de inverno, o sol de 34 graus abrilhantou uma carreira em franca e vigorosa ascensão.

Victor é um dos maiores expoentes do Grêmio desde que chegou, no começo do ano passado. Foi eleito o melhor goleiro do Brasileirão 2008 e acabou sendo convocado à Seleção. Justo. Agora, retornemos ao jogo deste domingo, quando Victor foi erguido a um pedestal e colocado ao lado de outros poucos heróis. Lembrei de uma frase do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, algo do tipo "povo infeliz aquele que não tem heróis". Exatamente assim, infelizes, voltaríamos para as nossas casas depois do jogo caso não existisse Victor. Depois, rememorei o complemento da frase anterior, algo que a deixa paradoxal: "povo infeliz aquele que precisa de heróis". Ora, a existência de heróis, então, é boa o ruim?

Brecht, que já virou pó faz uns 60 anos, me deixou com a pulga atrás da orelha. Queremos Victor sempre herói, como neste domingo, ou é melhor tê-lo ali, à disposição, mas sem precisar praticar heroísmos? Goleiro deveria que ser igual a bombeiro: quanto menos trabalhar, melhor. Victor vem labutando além do habitual. Abusam de sua boa vontade. Altruísta, neste domingo fez mais que sua parte dele: salvou a pele duma galera. Imaginem se os chutes de Adriano, Emerson e outros tivessem entrado - algo até normal para times "mortais". Certamente a segunda-feira chuvosa amanheceria tensa e ainda mais nebulosa. Os 4 a 1 esconderam uma sucessão de erros defensivos. Pontuais, é verdade - ou seja, passíveis de correção. Menos mal.

O time armado por Autuori trouxe uma formação diferente da normal. Rafa Marques, felizmente, voltou ao time. Rever foi bem na volância. Jadílson nos fez querer que Lúcio desembarque logo, e Bruno Collaço serviu de alento. Mário mostrou que pode ser lateral, sim. Túlio cobrou faltas e escanteios, mas não é garçom. Perea, depois de oito meses parado, parece que pode ser bom parceiro para Maxi Lopez. Douglas vai ganhando ritmo, e, num time todo modificado, chamou a responsabilidade. Jonas, bem... para mim, ainda é Jonas. Mesmo sendo "o artilheiro da temporada", não deveria ser titular. Souza e Maxi são diferenciados e, voltando, acrescem muito. Tcheco é um caso à parte: seus defensores dizem que o time não funciona sem ele. Discordo. Com Victor de capitão, a equipe me pareceu mais tranquila. Quase não houve atrito com arbitragem. Ainda assim, capitanear um barco sob apenas um ponto de vista, o do gol, não é a melhor solução. Sugiro, novamente, Rever com a braçadeira.

Não sei com que sentimento encerro este domingo. Fico feliz por termos Victor. Ao mesmo tempo, fico preocupado em vê-lo tendo de operar milagres. Por mim, o ideal seria ter Victor como mero observador. Não é de hoje que os da linha estão em dívida com ele. Deveriam aproveitar o entreato que é o encerramento do primeiro turno e pensar numa maneira de zerar a conta. Victor merece descanso durante os jogos. Merece mais: num calorão tipo este que fez domingo, deveria apenas assistir a Pereas e Jonas fazerem os gols. Enquanto isso, bem que algum outro - quem sabe Tcheco - poderia ficar servindo uma ceva gelada ao herói da meta tricolor. Afinal, ele merece.

Atormentado com o pensamento de Brecht, me voy.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Renatos Cajás da vida.

Por Silvio Pilau


Acredito que a maioria de vocês, frequentadores desse espaço, sabe que um grande veículo de comunicação do estado está fazendo uma eleição esportiva. O objetivo é formar as duas seleções de todos os tempos do Grêmio e do Inter, de acordo com a própria torcida. Analisando os resultados parciais da votação, nota-se que alguns dos maiores ídolos da história recente do tricolor eram as peças-chave daquele time dos anos 90 de Felipão. Na seleção parcial, constam Danrlei, Arce, Adílson, Roger, Dinho, Carlos Miguel, Emerson e Jardel – além, claro, do próprio treinador. Oito jogadores daquela base.

O ponto aonde quero chegar não é se a eleição é justa ou se é feita basicamente por jovens que não conheceram os craques do passado. A questão é: quem eram esses atletas antes de despontarem naquela máquina de títulos da década passada? Alguém, por acaso, já tinha ouvido falar neles? Talvez, no máximo, Arce e Adílson possuíssem uma carreira mais estabelecida, reconhecida e com passagens vitoriosas por outros clubes – mas, confesso sinceramente, não sei dizer. Em relação aos outros, porém, tenho certeza de que não passavam de meros desconhecidos ao chegarem ao Olímpico.

Pois vieram e fizeram história. Tornaram-se ídolos, heróis, eternos representantes dessa camiseta. Hoje, são embaixadores de um clube glorioso e reverenciados pela torcida onde quer que estejam. De atletas desacreditados, viraram lendas. Da obscuridade, alcançaram a glória. Reverteram ao seu favor a desconfiança da torcida, da imprensa, dos adversários e marcaram a ferro o seu nome no firmamento das três cores. A diferença entre quem eles eram antes de aqui chegarem para quando partiram é abismal.

Sempre lembro de jogadores como esses quando o Grêmio anuncia a contratação de um desconhecido. Sei que é um extremo otimismo da minha parte, mas não posso evitar. Por exemplo, alguém sabe quem é Renato Cajá? Alguém tem esperança de que ele possa trazer à equipe a qualidade e o equilíbrio que estão faltando? Tenho certeza que não. Cajá foi recebido com receio pela torcida e, convenhamos, não poderia ser diferente. Entretanto, no fundo do peito de cada gremista, mora uma fagulha que deixa viva a esperança de que ele possa fazer história com nosso distintivo no peito.

É bem provável que isso não aconteça. Infelizmente, nossas direções têm mais errado do que acertado. É raro um tiro no alvo como Victor ou Réver, que chegaram desconhecidos para se tornarem ídolos. Mas por que não? Por que Renato Cajá não pode se revelar um grande jogador ou, no mínimo, encaixar perfeitamente no esquema e se tornar fundamental à equipe? Pode ser uma possibilidade distante, mas ainda é uma possibilidade. E, talvez ainda mais importante, uma possibilidade à qual a torcida precisa se agarrar para continuar acreditando.

Claro que eu preferiria um Renato Abreu, um Ricardo Oliveira ou um Danilo, todos nomes que fizeram parte da boataria da janela. Estes são atletas que, ao menos uma vez e em um grande clube, destacaram-se com um futebol de qualidade e acima da média. Todos nós, porém, conhecemos a realidade financeira do clube e sabemos que trazer atletas como esses é um objetivo difícil de ser alcançado. Então, ficamos com os Renatos Cajás da vida. Ficamos com todos os que virão e que certamente não serão nomes consagrados no cenário do futebol.

Resta a nós apoiar esses atletas. Resta torcer para eles nos surpreenderem e, quem sabe, um dia poderem constar em listas honradas dos mais importantes de nossa história.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pela revolução do futebol, multa neles!

Por Ricardo Lacerda


Li pelas internet que o Botafogo decidiu multar o atacante André Lima em 10% do salário por ter errado um pênalti contra o Atlético-PR, na última rodada. O cobrador oficial do time é Lúcio Flávio, que se preparava para a cobrança quando o "bonzão" pegou a bola cheio do estilo de suas mãos – a contragosto do agora desempregado Ney Franco. Não sei quanto ganha André Lima, mas chutemos por baixo uns R$ 60 mil. Coitado, vai perder R$ 6 mil no fim do mês. Vejam só, pobrezinho do atacante botafoguense que vai perder 5 vezes o piso salarial de um jornalista (com diploma!). Reparem que ele não recebe todo mês 5 vezes o salário-base de um jornalista (formado!): o referido atleta vai deixar de receber essa quantia como punição. Os outros R$ 54 mil serão pagos direitinho. Ufa, menos mal.

Peguei o exemplo de André Lima, mas poderiam ser milhares de outros. O que a direção do Botafogo prometeu fazer deveria servir de benchmark para os clubes grandes, que pagam fortunas extraterrenas pra qualquer perna oca. Eu sei que o futebol é um mundo à parte, onde as cifras dos milhões são as que ditam as regras. Mas é brabo fazer Jardim, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Graduação, Especialização, Mestrado, PhD, Pós-Doutorado e o escambau e notar que o contracheque do fim do mês é um 25 avos do que ganha o terceiro reserva do Barueri. Exageros à parte, o mundo do futebol se revela cruel, muito mais cruel, quando os resultados do campo deixam a desejar.

Ainda que alguns resistam em concordar, meu pensamento vale tanto para Grêmio quanto para Internacional. Os clubes, aqui e alhures, derramam mundos e fundos com salários, luvas, imagem disso, direito autografal, cachê de risadinha e sei lá mais o que com umas amebas. O esporte que mais amamos mexe com paixões, movimenta multidões, faz com que um Zé Ninguém se transforme, do dia pra noite, em tudo. E isso não vai mudar, por maior que seja a revolução socialista do futebol, isso só anda pra frente, e não para trás.

O que fazer, diante dum disparate destes? Multa neles! Se o cara ganha R$ 100 mil, treina a semana inteira, e na hora do jogo não acerta um cruzamento, multa neles. Dá um salário base pro jogador e premia o cara quando ele acerta. Dar grana por gol só cola na Arábia, no Kuwait ou no Iêmen, onde o futebol engatinha. Por aqui, iam virar tudo uns fominhas. Mais fominhas, aliás. Que os clubes aproveitem essa onda das redes sociais e lance algo do tipo "Você, internauta, diga quanto deve ser o prêmio de fulano!". Que tal? Acho que seriam bem mais simpáticos com a imprensa nas horas ruins também, porque na hora boa qualquer um dá entrevista. A imensa maioria dos vendedores que conheço ganha um salário-base e o resto é comissão. Ah, bem que se poderia fazer o mesmo com jogadores de futebol. Que tal R$ 50 mil de salário pro Máxi Lopez e R$ 20 mil por jogo bem jogado (a ser definido por algum critério, sei eu, eu só tenho a ideia, não executo). Em média, são 8 jogos num mês, mais R$ 50 mil. Se ele atingir a meta, tem R$ 160 mil de comissão + R$ 50 mil salário-base. Com esse básico, acho que dá pra pagar o VT e o VR e ainda levar a Wanda pra comer um Speed ou um Tudo Pelo Social, não!?

Merecimento, pessoal. Acho que tudo na vida está vinculado ao merecimento, à produtividade. No futebol profissional, esse da Série A, quem joga mal, ganha bem. Quem ganha médio, ganha muito bem. Quem ganha muito bem, meu Deus do céu, poderia jogar só um ano e depois tirar férias eternas na Côte D´Azur.

A revolução do futebol, meus caros, não vai além do pensamento dum babaca iludido com este mesmo futebol. Mais um babaca, eu diria, porque somos todos babacas, que sustentam uma minoria inteligente. Estes sim, os grandes espertos do mundo. A diferença é que estes tais espertos passarão, nós passarinho (desculpem, não resisti, mas não é isso). A diferença, na verdade, é que eles são profissionais, apegados a contratos e a paixões momentâneas. Nós, torcedores, temos desde pequenos o valor transcendental do clube em nossos corações. Esse valor, meus caros, não tem alto salário que pague.

Tomar um trago, numa segunda chuvosa, me voy.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Perguntas sem respostas.

Por Silvio Pilau


Lá fora está frio, mas suportável. O que incomoda é a chuva, que há três dias cai incessantemente, frustrando quaisquer planos que se tenha para um descanso agradável de final de semana. Ele próprio está acabando. Sento diante da tela com a página branca do Word. Olho para ela. Penso sobre aquilo que devo fazer agora: escrever sobre o Grêmio, de preferência sobre a última atuação contra o Barueri. Este é o problema. O que dizer sobre um fato repetido sem ser repetitivo?

Tarefa difícil. Muito já foi dito sobre a sina do Grêmio neste Campeonato Brasileiro. Por alguma razão, o Tricolor não consegue vencer longe do Olímpico. Após cada insucesso, surgem milhares de teorias. São as expulsões, o time é limitado, Tcheco não é mais o mesmo, falta atitude, Autuori não tem o perfil para treinar um time como o Grêmio, a equipe só funciona ao lado da torcida e por aí vai. Todo mundo tenta, mas ninguém consegue explicar. E ninguém vai conseguir.

Essa resposta que todos buscam é uma resposta inexistente. O Grêmio não tem um time ruim. A equipe é, sim, boa. Com carências, claro, mas boa. Qualificada o suficiente para, ao menos, vencer duas ou três partidas foras de casa em um turno. Então, por que não funciona? Por que temos a melhor campanha dentro dos próprios domínios e esse retrospecto pavoroso longe deles? E o pior de tudo: como sugerir uma resposta que já não tenha sido dada? Como não ser repetitivo?

Nesse momento gremista, tudo não passa de perguntas. Questões, apenas isso. Indagações que permanecerão sem resposta até que essa vitória finalmente venha. A cada nova rodada, isso fica mais difícil; a pressão sobre jogadores e comissão técnica aumenta e é visível o desconforto em relação a isso. Mas não há uma explicação. Podem dizer que Thiego não pode ser lateral, que Jonas perde gols, que Léo não é mais confiável, que Tcheco some com freqüência. Não estarão dizendo nada de novo. Mas não está aí a resposta.

Não sei qual ela é, mas o negócio é jogar. Na verdade, talvez seja essa a solução: esquecer de todos os fiascos fora de casa e apenas jogar. Entrar em campo tentando deixar a campanha negativa e toda a bagagem que vem com ela de fora. Jogar despreocupado. Claro que é difícil, mas sei lá, talvez seja isso. O negócio é que o campeonato está passando e estamos estagnados. Sei que essa vitória virá. Tenham certeza, ela ocorrerá. Mas que seja cedo, pois as perguntas estão incomodando cada vez mais.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Fornicada de coelho.

Por Ricardo Lacerda

Moléstia a parte, inspiração não falta – afinal, estamos sempre falando de Grêmio. Mesmo assim, não obstante, todavia, entretanto, porém, resolvi abordar hoje diferentes assuntos num mesmo texto. A ordem em que estão não tem a ver com importância, relevância ou qualquer outra ânsia. As linhas abaixo transmitem minha opinião sobre coisas que ouvi por aí e outras tantas que não passam de achologia ou mesmo metafísica pura. Vamos às rapidinhas:

1. Não nos iludamos, Tcheco não é o bicho: Nosso capitão não levanta taças. É um cara inteligente, que sabe jogar para a torcida e usa muito bem o fato de amar o Grêmio. Muita gente diz que ele cadencia o jogo. Pra mim, ele é lento. A mente funciona bem, mas o corpo já não reage na mesma velocidade. Oscila ótimos lances numas partidas e, muitas vezes, some – geralmente quando mais precisamos dele. É legal ver quando Tcheco bate no antebraço ou no peito mostrando seu gremismo. Como tá na capa da ZH desta segunda. É feio ver quando toma amarelos ou vermelhos sem necessidade ou quando tem chiliques descabidos. Torço pra que o capitão cale minha boca, mas não deixo de dizer o que penso.

2. Depois de tanto festim, Douglas Costa dá indícios de que se ajeitou: O guri entrou bem contra o São Paulo no Morumbi e melhor ainda contra o Cruzeiro em casa. Vale lembrar que contra a Raposa, já tínhamos um a mais e o apoio da massa. Mas acho que tem que dar moral pro piá. Douglas com uma perna joga mais que o Jonas, que às vezes parece ter quatro.

3. Fábio Santos vinha melhorando desde a chegada de Autuori: Contra São Paulo e Cruzeiro foi brabo. Lateral que não acerta cruzamento é complicado. Pra jogo que tem que ir pra cima, Jadílson que é agudo, pode ser mais efetivo.

4. Rafael Marques tem jogado mais que Léo: Desde que Dunga vetou nosso 3 da Olimpíada, não é mais aquela unanimidade que era. É bom jogador, sim, mas a bunda tá pesando. Rafa Marques tem menos técnica, mas eu diria que hoje é um brucutu mais efetivo.

5. Quem vem? Ouvi dizer que, caso a direção arrume outro asilo pro Orteman, pode desembarcar por aqui o Diego de Souza, baita meia-esquerda do Defensor. Além de ser o quarto estrangeiro do tricolor, Orteman custa a bagatela de R$ 110 mil mensais. Pouca coisa.

6. Maxi não pode ser vendido: Não é nada fácil encontrar jogador com a bola da Xuxa no mercado mundial pelo preço que ele custa. Além disso, a identificação com o time e a torcida tem um valor intangível. O esforço para manter o marido da Wanda deve ser tão grande ou maior que o feito para manter Souza. Sem contar a Wanddinha, musa dos taxistas...

7. Lateral direito: Joílson veio, mas é ala. Makelelê é volante, Mário Doril e Thiego são zagueiros. Saimon, que tá na seleção e é bom, também é zagueiro. Tá faltando um lateral direito de ofício no Olímpico.

8. Atacante velocista: Herrera anda azarado. Faz faltas em demasia e acerta a trave em demasia. Por enquanto, é o melhor parceiro pro Maxi, a menos que se promova Douglinhas na frente. Jonas, o artilheiro da temporada, tem quatro pernas. Erra 5 gols pra fazer 1. Não dá. Alô direção! Aproveitem que despacharam o Alex Mineiro, que custava uma fortuna por mês, e tragam um velocista pra pifar La Barbie.

9. Willian Magrão deve voltar em setembro: Muito dificilmente entrará no time antes do fim do ano, já que precisa pegar ritmo, etc. O mesmo pra Mithyuê, craque em potencial.

10. Por fim, alguns nomes da piazada: Mario Doril, Roberson e Isael já andam com o grupo principal. É bom para irem se ambientando. Os três têm potencial. Saimon é bom e está na seleção brasileira. Da copa BH, meu destaque é Pessali, camisa 10 como poucos. É bom saber que Autuori é tri ligado na base e que dessa gurizada aí, alguns podem vingar. O negócio é fazer contratos bons pros guris não se encantarem com especulações (o que é difícil). Devem ser longos e com multas bem altas. Se saírem, que saiam por bastantes euros.

Enfim, me alonguei demais. Era pra ser rapidinho, que nem cópula de coelho, mas como o negócio é Grêmio, sempre dá pano pra manga. Não sou corneteiro nem amargo. Jamais vaiei ou deixei de apoiar quando no Monumental. Falar bem até que é legal. Botar os dedos nas feridas já é mais xarope. Se fosse barbada, todo mundo faria. Vamos com tudo em São Paulo. Tem Palmeiras e Barueri pela frente. Duas vitórias fora dão fôlego pra brigar pelo título.

Dado o recado, me voy.