segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Egos não fazem a história.

Por Felipe Sandrin


Shing Yang morava ao norte do Japão. Em uma época conturbada, via seu povo ser escravizado pelas demais tribos. Diante de armas primitivas, as vitórias em combate se decidiam por somente números e não táticas. Tudo mudou quando ele, Shing, desenvolveu sua primeira espada, que logo se tornariam 100, e mais tarde fariam de seu povo a força máxima, inigualáveis dominadores: a lâmina reescreveu a história e tornou-se a julgadora para os até então injustiçados.

Em uma nova era, surgia uma proposta inovadora, um estádio moderno, difícil de ser imaginado, quanto mais construído... Com esforço e união, moldou-se um sonho que mais tarde deixava de ser impossível para se tornar realidade.

O Olímpico significou mais do que a casa do Grêmio: foi ele a iniciativa de muitos outros clubes brasileiros, uma amostra concreta do que um clube e seus apaixonados torcedores podiam fazer. Mais do que um estádio, o Olímpico emergia trazendo um novo Grêmio, multi-campeão, que deixava de ser regional para tornar-se desbravador.

A geração Yang era respeitada, vistas como grande responsável pelo poder que a pequena vila 100 anos mais tarde havia conseguido. O tataraneto de Shing ainda era tratado como rei, e seu sobrenome era precedido pelo seu nome. Ante tanto poder, Shing Quarto se sentia um deus, invencível herdeiro do homem que inventou a espada. Porém alguns anos mais tarde surgiam boatos de que não muito longe daí, um bruxo de outro povoado havia inventado um pó capaz de produzir fogo, o qual eles chamavam de pólvora. Shing Quarto não deu importância para tal informação, ele acreditava cegamente no poder da espada... Alguns anos depois, o castelo Shing padeceria, e os exércitos seriam dizimados junto ao poder da pólvora.

Nosso Olímpico envelheceu, as casas, ruas, o bairro que o ostentavam também. Nossa grande invenção, nossa casa de tantas glórias perderia força, e ante os restos que dele se faziam, nosso Grêmio, nosso povo, padeceria buscando novamente a grandeza que um dia foi alcançada.Nossa força é conhecida, nossa espada todos temem, os quatro ventos do mundo sopram nosso nome e nossos adversários lembram:
-“lá, nas longínquas terras do Rio Grande, existe um time que quando luta em seu castelo torna-se invencível”.

Hoje, porém, nosso Olímpico é uma espada, nossos inimigos descobriram a pólvora, e não tardaram a nos atacar. Resta a nós decidirmos: viveremos do passado, da força de nossa invenção e orgulho, ou combateremos com nossa genialidade, aprimoraremos nossa capacidade e construiremos um novo castelo, uma arena, que novamente nos permitirá explorar o mundo, desafiar outros povos, e reinar no topo dele?

Nosso passado e nossas histórias nunca serão esquecidos. Porém, os pecados de nossos reis, de nossas gerações anteriores que construíram o Olímpico podem decretar um erro fatal, um erro que nos fará um time somente de passado, e sem nenhum futuro.

Egos não fazem a história. Está na hora de deixar nomes e gerações de lado... Afinal, somos conhecidos como um exército de gremistas, e não como de “dourados”.

É suicídio ter uma nova e moderna casa? Não, suicídio é ver as pessoas que representam nosso clube sendo retrógradas, inacessíveis e manipuladores.

Nosso novo estádio pode ser vermelho? Chamaram-me de burro, apelaram e perderam boa parte do respeito.

Mais fácil seria sentar, aprimorar, e juntos decidirem, mas preferem ficar se atacando, até apelando para mentiras.

Sim, muito há de ser melhorado em nosso contrato com a Arena, e será! ... Mas negar que estamos à beira do caos administrativo com um estádio falido, isso não é solução.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Você pagou com traição!

Por Cristiano Zanella


Uma inesquecível celebração ao gremismo o jogo de despedida de Danrlei de Deus Hinterholz, no sábado, partida que marcou o encerramento da temporada tricolor 2009. Mais de 33 mil torcedores em êxtase, doze toneladas de alimentos arrecadadas! Bonito de ver a vitalidade de Tarciso, o “Flecha Negra”, 58 anos, mais de uma década defendendo a camisa do Grêmio! Ver o jagunço Dinho chorando como uma criança, afinal de contas, os brutos também amam! Ver Paulo Nunes cruzar para Jardel fazer de cabeça, correr pra galera, como nos velhos tempos! O “Capitão América” Adilson Batista, Arce, Rivorola, Roger, Carlos Miguel, só faltou o lendário borracho Arílson! O goleirão Mazaroppi, o bigodudo Nildo, que grandes presenças! Era o Grêmio dos sonhos que estava em campo, uma seleção dos maiores craques que passaram pelo clube nos últimos vinte anos, personagens que fizeram parte de nossa infância e juventude e que continuam vivos no imaginário dos gremistas de todas as idades! “As pessoas vêm nos agradecer por tudo que fizemos pelo Grêmio, mas, para nós, é o contrário”, afirmava Paulo Nunes – “a gente é que agradece o que o Grêmio fez por todos nós”.

Fazia tempo que não ia de Social (existem lendas que no local se reúne a fina-flor dos corneteiros), mas visto que era um jogo festivo e as filas estavam enormes em todos os portões, nos emburacamos no portão 5, do lado oposto à Geral.

Bola rolando, só alegria, até que...

Segundo tempo, o ex-jogador Roberto Assis Moreira (hoje empresário, presidente do Assis Moreira Group, proprietário do Porto Alegre Futebol, time fundado em 2006) entra em campo! Vaias generalizadas, em todos os setores do estádio! Cada vez que tocava na bola, aumentavam as vaias: quando conduzia a bola, vaias estendidas; quando dava de tapinha nela, vaia breve, um rápido “buh”! Eram vaias que cheiravam a mofo, há muito estavam guardadas no peito da torcida tricolor!

Aos dezessete minutos da etapa complementar, gol de Assis, de cabeça! Foi a primeira vez, em meus 38 anos, que vi um gol gremista ser comemorado com vaias, em pleno estádio Olímpico! A avalanche desabou meia arquibanca e congelou! A torcida ficou sem reação! Começou a chover novamente!

Constrangimento total...

O povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la! Não sei onde ouvi esta frase, mas, desde então, não parei de repeti-la, incessante e insistentemente. Para minha alegria, os milhares de gremistas que compareceram à comovente homenagem provaram que o Grêmio, mais do que ter história, também tem memória!

Muitos afirmam que um profissional moderno não tem apreço à camisa, apenas cumpre seu papel de jogar bola, sem mostrar identificação com o clube, beijar o distintivo, declarar eterno amor, etc. Assis Moreira já sabia disso há mais de vinte anos. Com o sotaque chiado que o caracteriza (nunca falou a língua do “tu”, preferindo a impessoalidade do “você”), disparou o ex-pseudo-craque, em entrevista (disponível no site Final Sports):
-“As portas do estádio Olímpico estão abertas para nós. A nossa história aqui dentro permanece intacta”.

Ledo engano...

Recordar é viver: em dezembro de 1987, os jornais noticiavam o “desaparecimento” de Assis, então com 16 anos, que, levado à Itália por um empresário, estava treinando no Torino. Todos os esforços possíveis foram feitos para trazer de volta o “garoto de ouro”, promessa de craque que nunca se concretizou (foi vendido em 1992, por um valor pífio). Anos mais tarde, em 2001, o caçula dos Assis Moreira, o mais festejado filhote da Miguelina, internacionalmente conhecido como “Ronaldinho Gaúcho” (recentemente eleito o “Craque da Década” – a julgar pelas últimas temporadas e participações na Seleção Brasileira, uma homenagem póstuma a um jogador em final de carreira), repetia o irmão! Assessorado pelo próprio Assis, fazendo juras de amor eterno ao Grêmio (embora já com um pré-contrato assinado com o Paris Saint-Germain), o dentuço deixava o tricolor em circunstâncias obscuras, em meio a uma batalha judicial que se estendeu por meses, episódio que a maioria dos gremistas classifica como verdadeira e inequívoca “trairagem”!

Há quem diga que a gota d´água foi a ida do filho de Roberto Assis para o colorado (foto), ou a inesquecível “performance” de Ronaldinho na final do Mundial Interclubes 2006 – partida que seria o “jogo do perdão”!

Tanto faz... a ordem dos fatores não altera o produto final!

Todos sabem que é esta a marca da família Moreira: na hora “da boa”, de comemorar, festejar os tempos que (infelizmente) não voltam mais, sempre presentes! Pra gravar comercial da Nike e fazer samba em concentração, 100%. Na dificuldade, na hora “da ruim”, escondidos, cabisbaixos, rendidos e derrotados, lá no fundo, talvez até constrangidos por sua conduta dita “profissional” – afinal de contas, profissional não tem time, aluga seu corpo e alma à quem lhe pague um soldo mais polpudo!Assis Moreira: “você” pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão!

Direção: mais uma vez imploramos, ouçam a torcida! O Grêmio, mais do que nunca, precisa de união, dos gremistas de verdade! Errar é humano, insistir no erro, burrice! Não falo em nome da torcida, falo por mim: filho da dona Miguelina, jogando no Olímpico, só se for vestindo a camisa do adversário – de preferência a vermelha, que é a que lhes cai bem!!!

Com a palavra, o caro leitor...Na boa ou na ruim, como o Grêmio sempre – na raça e na convicção, sem pipocar!!!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vai-se a década maldita.

Por Felipe Sandrin


ACABOOOOOUUUUUUUUUUUUUUUU!!!

Para muitos, a década acaba em 2010; para mim, ela acabou domingo. Chega de tanto sofrimento, de gritos que não saíram, de fogos que não subiram: que parta 2009 e venha logo a redenção, a glória de um Grêmio campeão, de um Grêmio que, por anos, nos acostumou com glórias infindáveis e inesquecíveis.

Onde mora meu orgulho desses últimos dez anos? Claro, em uma batalha de aflitos, num jogo atípico que nunca novamente será visto... Jogo inesquecível, mas título sem grande valor. Foi assim que vivenciamos os últimos anos: nossos grandes feitos nem foram grandes títulos. Da Batalha dos Aflitos para uma final de Libertadores, a qual nos deixa sentimentos incompletos até hoje.

E para finalizar, restou a nós entregarmos um jogo, sangrar a carne de nossos rivais que por uma semana entoaram nosso hino, gritaram nosso nome e imploraram por nossa ajuda: eles negaram, mas lá estão as provas, os vídeos incontestáveis. E quando eles disserem “vocês entregaram”, eu direi: Sim! E vocês foram tri vice. No ano do centenário de vocês, quem dançou a marcha fúnebre foi o Inter, enquanto nós, regentes do hino dos mortos, apenas rimos e tocamos a última nota, junto à última pá de terra que pousou sobre tuas gélidas esperanças, torcedor colorado.

Acabou! Fim de década, que morram as datas malditas e que levem o QUASE, que levem os falsos gremistas, aqueles que, filhos de um Brasil corrupto, também destoaram o azul de minha bandeira.

É hora de darmos um adeus ao herói, um homem com mais títulos que muitos clubes brasileiros, um defensor das causas de paixão, um declarado de coração azul, que nunca quis ter razão, pois esta sempre foi amor pelo Grêmio. Parte Danrlei, o goleiro que defendia muito mais que nossos sonhos e desejos. Parte Danrlei de Deus, abandona os campos, mas deixa-nos o pranto que regou títulos e sorrisos que até hoje ecoam no peito dos que amam o Grêmio.

Levem-me essa década maldita, a qual sempre volta, a qual sempre finda, mas que nunca vence... Porque o Grêmio é imortal, e nessa década que pouco nos trouxe, aflorou-se de vez esta palavra, IMORTAL. Porque anos, décadas não nos vencem, não nos diminuem a torcida, os prazeres, não nos vencem nem nos fazem menos do que O MAIOR DO RIO GRANDE.

Tu esteve na segunda, mas poderia ter ido para a terceira ou quarta. Hoje já não importa teu lugar exterior, pois eu conheço teu lugar interior. E tu, GRÊMIO, SÓ TU, GRÊMIO, és dono desse coração. Namoradas se foram, amigos se foram, e tu aqui, firme, forte. És tu a primeira, segunda, terceira e quarta batida mais forte deste meu coração que um dia há de parar sabendo que tu haverá de seguir.

Acabou a década, e enquanto alguns pensam que foi a década dos perdedores, eu digo que foi esta a dos vencedores, a de gremistas fortes que souberam ver rivais campeões, diretorias medíocres e sonhos interrompidos; a de gremistas fortes que suportaram tanto quanto outros gremistas em outras épocas suportaram para poder forjar novamente o Grêmio que não se apaga, não se abala ante a peleia.

Acabou! Fim de década, fim de era e começo de um novo velho Grêmio.

Eu estive, eu estou e eu estarei lá... Tudo por um Grêmio campeão? Não, tudo pelo Grêmio...

Ser campeão é conseqüência, ser gremista é merecimento.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Carta ao Presidente.

Por Silvio Pilau


Caro Presidente Duda Kroeff

Tenho certeza de que o senhor está acompanhando todas as manifestações sobre a partida de domingo. De um lado, estão os colorados, indignados com a possibilidade de entregarmos o jogo e de torná-los vices, mais uma vez. De outro, estamos nós, gremistas, ansiosos pela oportunidade de sacanear o grande rival, mesmo que a custo de uma derrota de nosso próprio clube.

Não preciso explicar este cenário ao senhor. Como homem inteligente, sei que o senhor tem consciência de tudo o que está em jogo. E entendo as declarações que deu afirmando que o Grêmio jamais entrará para perder. É necessário falar isso, compreendo. Faz parte da politicagem e, de certa forma, também é uma maneira de se preservar, evitando represálias dos tribunais, que estão de olhos abertos para qualquer sinal de corpo mole.

Mas, cá entre nós, sei que o senhor também quer a vitória do Flamengo. Ao menos, é o que espero de um gremista. E o senhor é gremista, não é? A diferença é que nós podemos gritar isso para quem quiser ouvir, o senhor não. Nós podemos expor aos quatro ventos que, no domingo, não queremos vencer. O que importa é tão-somente não deixar nosso maior rival levar para casa o quarto título do Campeonato Brasileiro.

Presidente, agora é a sua hora. Melhor do que ninguém, o senhor sabe que não está bem cotado junto à torcida gremista. O ano de insucessos e os erros cometidos na temporada fizeram com que a nação tricolor encerrasse o ano com um pé atrás em relação a toda a diretoria. Pois bem, senhor Presidente, essa é a chance de redenção. Esse é o momento de fazer a torcida voltar para o lado de vocês. Façam o que ela pede.

O senhor, os demais diretores, os jogadores e a comissão técnica estão sempre falando diante dos microfones que o Grêmio só existe por causa da torcida. Dizem que os seguidores são o maior patrimônio do clube. Então, escutem-na. Escutem-nos. Não queremos o Inter campeão. Principalmente às nossas custas. Gremista algum quer carregar consigo, por toda a vida, a culpa de saber que o maior rival ganhou um título nacional por nossa causa.

Honra? Dignidade? Tudo isso é muito bonito, mas não cabe aqui. Os colorados estão apelando para estes valores como se isso tivesse alguma coisa a ver com o que vai acontecer domingo. Não tem. Os gremistas só não querem ver o Inter campeão. Simples. Seria exatamente igual se o cenário fosse inverso. Nada relacionado a honra e dignidade. É pura e simplesmente, a divertida, honesta e abençoada rivalidade.

Afinal, sabemos todos que uma das principais razões para o futebol ser tão bonito e apaixonante é essa rivalidade. É a competitividade, a emoção, a provocação entre duas torcidas. Sem o Inter, o Grêmio não seria tão grande, e vice-versa. Sem a disputa – saudável e sem violência, sempre –, o futebol perderia muito de sua graça. Peço, Presidente, que o senhor faça jus a essa rivalidade que move o coração de milhões e milhões de gaúchos.

Dirijo essa carta ao senhor porque sei que, ao final, a decisão será sua. Como a maior autoridade do clube, cabe ao senhor bater o pé em relação ao time que vai entrar em campo. Tem gente por aí dizendo que, devido ao retrospecto gremista longe do Olímpico, toda a polêmica é gratuita, pois não ganharíamos do Flamengo com o time titular. Eu digo: por que arriscar?

Presidente Duda Kroeff, espero que, como gremista, o senhor tome a decisão que toda a torcida espera.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Fim de festa.

Por Cristiano Zanella


As reuniões dançantes foram a marca da minha geração. Sou do tempo em que os encontros de jovens (aniversários, festas de 15 anos) eram “disputados” nas garagens, vigiados de perto pelos apreensivos pais donos da casa, embalados por temas musicais executados em toca-discos de vinil portáteis, uma época que realmente traz boas recordações. As gurias de um lado, os guris do outro, esperando a música certa para tentar uma aproximação. Era final dos anos 70 (declínio da “disco music”, início do “pop”), e o que estava pegando eram lps como Discoteca Papagaios, Sua Paz Mundial, depois Hit Parede, Flipper Hits, Vídeo Hits, trilhas de novelas – coletâneas com músicas lentas e dançantes (aqui pra nós, um “somzinho” pra lá de bagaceiro, mas autêntico pra caralho). Os “amassos” eram meras beijocas que não duravam mais do que uma dança, mas causavam grande alvoroço no colégio ou entre os amigos da vizinhança. Faz tempo... Eram os anos 70, começo dos 80, uma época de sofrimento para os gremistas – eu estava mais interessado em reuniões dançantes, matinês no cinema e garotas!

Quando já passava das dez, onze da noite, e ia se aproximando o fim da festa, as poucas gurias que ainda estavam disponíveis na pista eram, geralmente, os encalhes da turma – traduzindo para uma linguagem do Campeonato Brasileiro, eram a Sulamericana e a Segundona! Título de campeão e Libertadores, que eram as garotas mais disputadas e desejadas (às vezes, secretamente), já eram... estavam em casa dormindo ou nos braços de um tipo qualquer. Zero a zero: um final melancólico para uma noite de expectativas. E eu ia voltar pra casa “invicto”... de novo!

Mas, como bom sonhador, “o último romântico” (na realidade, era uma baita de um punheteiro), eu nunca deixava de acreditar que, subitamente, a garota que eu queria ia entrar no salão e caminhar na minha direção, quase que implorando pela próxima dança, uma música lenta, inesquecível, e eu ia entregar a ela todo meu amor juvenil – já era prorrogação, e eu prestes a marcar o “golden-gol”, consagrando a máxima que diz: “quem espera, sempre alcança”.

Mas, que eu lembre, isso nunca aconteceu! E, na maioria das vezes, o cara acabava “agarrando o que tem”, provando e comprovando a versatilidade e desenvoltura do brasileiro na nobre arte da conquista amorosa! Ufa, a menina era feia, usava aparelho e não sabia dançar – um prêmio de consolação, mas vá lá: “a vida é assim mesmo, e amanhã vai ser outro dia”!

O tempo passou, e este humilde tricolor sagrou-se multi-campeão de tudo, alcançou o topo do ranking, foi ao inferno e voltou! Torceu, gritou, sofreu, cantou e vibrou, ano após ano, até o último momento, e sobreviveu à pós-modernidade conservando o gosto pelo futebol e pelas mulheres (coisa rara em tempos de “diversidade”). Já adulto, viu a festa do Brasileirão 2009, como as velhas reuniões dançantes de garagem, começar bastante animada, com momentos de indefinição, aflição, desespero, quando finalmente, já quase sem esperança, a sonhada garota chegou! Estava irresistível, como nos tempos de outrora... vestindo – acreditem – uma camisa do Flamengo (coincidência ou não, nosso arqui-rival dos anos 80)! Dançamos até o amanhecer, numa espécie de tributo aos bons tempos que, infelizmente, não voltam mais! Foi lindo!

Enquanto dançava, me dei conta que a festa do Brasileirão chegava ao seu final! O Flamengo era o Campeão Brasileiro 2009 – estava decretado! Podem me xingar, podem me bater, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião! O Grêmio não irá entregar o jogo, é claro... irá perder mais uma partida longe do Olímpico, fato que em nada surpreende na atual temporada (uma extenuante rotina de derrotas fora). E, em tempo: a força que demos ao co-irmão já o coloca no seleto grupo de classificados à Libertadores 2009!

Assim sendo, conceito posto e bem entendido, visto que é claro e direto, sem rodeios, questionamentos ou possibilidades extra: parabéns, Flamengão! O título está em boas mãos! E, no domingo, todos os caminhos levam à avenida Goethe – é fim de festa e, mais do que nunca, é preciso “agarrar o que tem”: os vermelhos, comemorarão a vitória sobre o Santo André e a almejada vaga na Libertadores; nós, azuis, o Penta-vice vermelho (1987, 1988, 2005, 2006 e 2009 – ninguém é mais vice na história do Brasileirão)! É só alegria no Rio Grande! Abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia – a festa é nossa, e estão todos convidados: urubus, bambis, porcos e sacis! Mas, desta vez, é o mosqueteiro quem dança com a dona da festa!!!

Com o Grêmio sempre, cantando e encantando, até a última música do lado b!!!