terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pela revolução do futebol, multa neles!

Por Ricardo Lacerda


Li pelas internet que o Botafogo decidiu multar o atacante André Lima em 10% do salário por ter errado um pênalti contra o Atlético-PR, na última rodada. O cobrador oficial do time é Lúcio Flávio, que se preparava para a cobrança quando o "bonzão" pegou a bola cheio do estilo de suas mãos – a contragosto do agora desempregado Ney Franco. Não sei quanto ganha André Lima, mas chutemos por baixo uns R$ 60 mil. Coitado, vai perder R$ 6 mil no fim do mês. Vejam só, pobrezinho do atacante botafoguense que vai perder 5 vezes o piso salarial de um jornalista (com diploma!). Reparem que ele não recebe todo mês 5 vezes o salário-base de um jornalista (formado!): o referido atleta vai deixar de receber essa quantia como punição. Os outros R$ 54 mil serão pagos direitinho. Ufa, menos mal.

Peguei o exemplo de André Lima, mas poderiam ser milhares de outros. O que a direção do Botafogo prometeu fazer deveria servir de benchmark para os clubes grandes, que pagam fortunas extraterrenas pra qualquer perna oca. Eu sei que o futebol é um mundo à parte, onde as cifras dos milhões são as que ditam as regras. Mas é brabo fazer Jardim, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Graduação, Especialização, Mestrado, PhD, Pós-Doutorado e o escambau e notar que o contracheque do fim do mês é um 25 avos do que ganha o terceiro reserva do Barueri. Exageros à parte, o mundo do futebol se revela cruel, muito mais cruel, quando os resultados do campo deixam a desejar.

Ainda que alguns resistam em concordar, meu pensamento vale tanto para Grêmio quanto para Internacional. Os clubes, aqui e alhures, derramam mundos e fundos com salários, luvas, imagem disso, direito autografal, cachê de risadinha e sei lá mais o que com umas amebas. O esporte que mais amamos mexe com paixões, movimenta multidões, faz com que um Zé Ninguém se transforme, do dia pra noite, em tudo. E isso não vai mudar, por maior que seja a revolução socialista do futebol, isso só anda pra frente, e não para trás.

O que fazer, diante dum disparate destes? Multa neles! Se o cara ganha R$ 100 mil, treina a semana inteira, e na hora do jogo não acerta um cruzamento, multa neles. Dá um salário base pro jogador e premia o cara quando ele acerta. Dar grana por gol só cola na Arábia, no Kuwait ou no Iêmen, onde o futebol engatinha. Por aqui, iam virar tudo uns fominhas. Mais fominhas, aliás. Que os clubes aproveitem essa onda das redes sociais e lance algo do tipo "Você, internauta, diga quanto deve ser o prêmio de fulano!". Que tal? Acho que seriam bem mais simpáticos com a imprensa nas horas ruins também, porque na hora boa qualquer um dá entrevista. A imensa maioria dos vendedores que conheço ganha um salário-base e o resto é comissão. Ah, bem que se poderia fazer o mesmo com jogadores de futebol. Que tal R$ 50 mil de salário pro Máxi Lopez e R$ 20 mil por jogo bem jogado (a ser definido por algum critério, sei eu, eu só tenho a ideia, não executo). Em média, são 8 jogos num mês, mais R$ 50 mil. Se ele atingir a meta, tem R$ 160 mil de comissão + R$ 50 mil salário-base. Com esse básico, acho que dá pra pagar o VT e o VR e ainda levar a Wanda pra comer um Speed ou um Tudo Pelo Social, não!?

Merecimento, pessoal. Acho que tudo na vida está vinculado ao merecimento, à produtividade. No futebol profissional, esse da Série A, quem joga mal, ganha bem. Quem ganha médio, ganha muito bem. Quem ganha muito bem, meu Deus do céu, poderia jogar só um ano e depois tirar férias eternas na Côte D´Azur.

A revolução do futebol, meus caros, não vai além do pensamento dum babaca iludido com este mesmo futebol. Mais um babaca, eu diria, porque somos todos babacas, que sustentam uma minoria inteligente. Estes sim, os grandes espertos do mundo. A diferença é que estes tais espertos passarão, nós passarinho (desculpem, não resisti, mas não é isso). A diferença, na verdade, é que eles são profissionais, apegados a contratos e a paixões momentâneas. Nós, torcedores, temos desde pequenos o valor transcendental do clube em nossos corações. Esse valor, meus caros, não tem alto salário que pague.

Tomar um trago, numa segunda chuvosa, me voy.

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