sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Foi-se um gremista.

Por Felipe Sandrin


Destaco trechos de um texto no qual desconheço autor:

O homem por detrás do balcão olhava a rua de forma distraída.

Uma garotinha se aproximou da loja e amassou o narizinho contra o vidro da vitrine. Os olhos da cor do céu, brilhavam quando viu um determinado objeto. Entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesa azul.

- É para minha irmã. Pode fazer um pacote bem bonito? - diz ela. O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:

- Quanto de dinheiro você tem? Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós.

Colocou-o sobre o balcão e feliz, disse:

- Isso dá?Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.

- Sabe, quero dar este presente para minha irmã mais velha. Ela cuida de mim e dos meu irmãos e não tem tempo para ela... É aniversário dela e tenho certeza que ficará feliz com o colar que é da cor de seus olhos.

O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um estojo, embrulhou-o com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde.

- Tome!!! - Disse para a garota.

- Leve-o com cuidado.

Ela saiu feliz saltitando pela rua abaixo. Ainda não acabara o dia quando uma linda jovem adentrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido embrulho desfeito e indagou:

- Este colar foi comprado aqui?

- Sim senhora.

- E quanto custou?

- Ah!! - Falou o dono da loja - o preço de qualquer produto da minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o cliente. A moça continuou:

- Mas minha irmã tinha somente algumas moedas!

O colar é verdadeiro, não é?

Ela não teria dinheiro para pagá-lo!

O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu a jovem.

- Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar.

ELA DEU TUDO O QUE TINHA

Tcheco chegou ao Grêmio em uma época ainda conturbada, de indefinições quanto ao verdadeiro futuro do clube. Tímido, porém sempre sorridente, Tcheco mostrava-se a cada dia mais apaixonado pela capital gaúcha, suas belas mulheres e o povo cheio de particularidades que a ele eram confortantes o suficiente para saber que dali por diante o Grêmio seria sua casa.

Em um mural de imagens marcantes ficou faltando a dele, Tcheco, erguendo uma taça, uma foto que ganharia molduras dignas de estar ao lado das de grandes campeões. Ele e nós torcedores sabemos que diante das alegrias nossa maior mágoa é essa: não vermos um homem que tinha tudo para escrever sua história no clube, escrever um final feliz inesquecível.

Tcheco foi um filme de grande roteiro e recursos suficientes para tornar-se um épico, mas assim como grandes obras o futebol também é uma incógnita que razão alguma explica: ninguém sabe quando surgirá um herói, um vilão ou um simples coadjuvante.

Fecha-se um ciclo, parte um jogador sem meios termos, que ou ia mal, ou ia bem, ou decidia a favor ou contra, ou era amado ou era odiado: com Tcheco, nunca houve meios termos, e mesmo quem estivera longe de ser a solução, nunca foi nosso principal problema.

Discute-se muito sobre a saída de nosso capitão, se o Grêmio ganha ou perde sem ele, mas no fim, neste jogo de perdas e ganhos, quem realmente ganhou foi Tcheco, que por quatro anos vivenciou uma das mais puras paixões por um time de futebol.

O ciclo termina, e o sujeito dos discursos ponderados, palavras estudadas, das comemorações mais sinceras e emocionadas parte deixando a certeza de que o pouco que ele nos deu para ele foi muito, pois era tudo o que ele tinha.

Chegou como mais um, mas tenho certeza de que partirá gremista. Dentre seus orgulhos, fotos de uma época que não voltará, e mesmo que muitos de nós torcedores digamos “ainda bem”, ele, Tcheco, com os olhos cheios de lágrimas, murmurará com paixão e saudades a palavra infelizmente.

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