terça-feira, 21 de julho de 2009

O tip-top tricolor.

Por Ricardo Lacerda


Foram exatas 24 horas desde o apito final de Leonardo Gaciba. Às seis da tarde desta segunda-feira, nasceu em Passo Fundo, a “capital nacional da literatura”, o Arthur. Tutu é filho dum colorado com uma gremista. Terei a honrosa incumbência de batizar o piá. A madrinha promete equilibrar o esquema, já que é colorada. Mais feliz que lambari de sanga era a parentada. Vô, vó, tio, tia, bisavô, bisavó, dindo, dinda... Tudo meio azul, meio vermelho, tal qual nosso Rio Grande. Uma Torre de Babel. Nada como vida nova para alegrar até mesmo eles, os amargos.

À espera de Tutu, um belo tip-top tricolor. O “traje” terá de duelar com a camisetinha e o calção do Inter comprados por algum desvairado. Ainda bem que é inverno e, pra quem não sabe, na terra do Felipão faz frio pacas. Custou caro o tal do tip-top, e isso que tenho “desconto” de sócio. Mesmo assim, como dizia aquela propaganda, ver meu afilhado vestido de Tricolor não vai ter preço. Esperto, apesar de colorado, o pai promete vestir o moleque de Grêmio e de Inter até que, de fato, ele se conheça por gente e faça sua escolha, democraticamente. Caberá a um exército de influenciadores aplicarem suas táticas. Ou seria esta uma responsabilidade, ainda que indireta, dos próprios clubes?

Por alto, e sem base estatística alguma, diria que aqueles nascidos nos anos 70 são, em sua maioria, colorados. Aqueles que cresceram nos 80 e nos 90, gremistas. A atual década pendeu a balança para o lado vermelho. No cômputo geral, temos um estado dividido irmamente. Para quem hão de torcer as centenas Tutus que nascem diariamente pelo pago? Além da pressão familiar, a escolha passa pelo momento que o clube vive. Não se trata de oportunismo ou modinha, até porque isso existe dos dois lados. Essa influência da situação atual da instituição é grande, mesmo que inconscientemente.

Quero ver o Tutu crescer gremista. Sei bem que ele vai ter um pai murrinha, que vai ficar incomodando para que assistam juntos aos jogos do Inter, empurrando aquela camisa encarnada goela abaixo. Mesmo assim, vou fazer o esforço que um bom padrinho deve fazer. Quero repetir meu dindo (o avô do Tutu). Ao ver meu pai colorado, Zezé tratou de me levar ao Olímpico antes que eu cogitasse seguir outro caminho. Pai colorado, filho gremista, vice-versa, é legal quando um pode rir do outro pacificamente. Decidi que só me incomodaria por futebol quando o futebol pagasse minhas contas, e olhe lá. E não paga. Muito pelo contrário, eu é que pago as contas do futebol.

Então, meu povo, sejamos amigos. Tutu nasceu no "dia do amigo". Os jogadores demonstraram estar em clima fraternal antes do jogo. Nunca tinha visto tantos atletas de Grêmio e Inter afinados dessa maneira uns com os outros. Era abraço pra cá, abraço pra lá, sorrisinho isso, sorrisinho aquilo. No exagero, eu diria “um grenal bixinha”. E foi quase isso o que pareceu. Jogaram com gana, sim - ao menos os do Grêmio - mas sem deslealdade. Foram poucos cartões, quase nenhuma discussão. Zero chorumelas, paz na torcida, Brigada Militar se redimindo e fazendo um trabalho exemplar...

Enfim, é isso o que eu quero para que daqui a alguns anos possa levar o Tutu na cacunda tranquilamente ao Olímpico - ou à Arena, que seja. Antes de moldar uma criança gremista ou colorada, precisamos moldar seu caráter. A causa é nobre. Dentro de seis anos, quem sabe menos, espero que o Arthur leia esse texto e diga algo do tipo “dindo, desde o tip-top tricolor eu já sabia que era gremista”. E só então eu vou contar pra ele, e com todos os detalhes, como foi bom ganhar aquele grenal do centenário. A Passo Fundo, me voy.

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