quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Libertadores começou ontem.

Por Silvio Pilau

Sejamos francos: a campanha gremista até aqui na Libertadores foi um passeio no parque. Ou melhor, até ontem. Antes da partida da última noite contra o Caracas, o Grêmio parecia tirar doce de criança a cada atuação. Os adversários eram incrivelmente inferiores e os duelos pouco exigiam do Tricolor, que vencia sem grandes dificuldades, mesmo quando não jogava bem. Talvez isso tenha colaborado para a mobilização mais fraca da torcida nesta Libertadores, especialmente se compararmos com 2007.

Tudo isso, como disse, foi até a partida de volta contra o time venezuelano. Ontem, pela primeira vez no torneio desse ano, a torcida pôde vivenciar um verdadeiro duelo de Libertadores da América. Um jogo tenso, nervoso, de muita briga, onde a qualidade do futebol por vezes é esquecida. Um combate onde o que realmente importa não é jogar bem, mas colocar em campo o espírito de um verdadeiro libertador. Ontem, a Libertadores teve início para todos os gremistas.

Foi difícil, muito difícil. Os gremistas sabiam que assim seria. Somente novatos nessa história de competições internacionais acreditam que existe jogo jogado em uma quarta-de-final de Libertadores da América. O Caracas não é um time de grande qualidade, fato. Mas tem uma equipe bem montada, que sabe o que quer e complicou para cima do Grêmio. Muito disso se deveu às próprias falhas do Tricolor, claro, mas a equipe venezuelana demonstrou possuir valor ao enfrentar de cabeça erguida um dos clubes mais vencedores do continente em seus próprios domínios.

Todos viram que o Grêmio não jogou bem. As deficiências da equipe continuam saltando aos olhos, talvez ainda mais exacerbadas devido ao momento de transição de esquema. Os dois laterais continuam devendo bastante, Tcheco mais uma vez foi abaixo da média e Souza parece estão não somente com a cabeça, mas com os pés em Paris. Porém, mais uma vez, o grande problema foi a falta de gols. Acho que nunca vi uma equipe perder tantos gols quanto o Grêmio neste ano. É algo a ser estudado por cientistas. As chances são criadas, mas a dificuldade para balançar as redes é monumental.

Até agora, conseguimos driblar isso. No entanto, a cada nova fase, as oportunidades são cada vez mais raras. Em uma semi ou em um final, as partidas são decididas no detalhe. Essa macumba, esse azar ou essa falta de competência que torna escasso o aproveitamento Tricolor pode fazer a diferença para a conquista de um troféu. É algo preocupante. Parece que a única solução é passar uma semana inteira treinando exclusivamente finalizações.

Outro problema continua sendo a falta de experiência do elenco. Ontem, isso ficou muito visível. O time realmente não sabia o que fazer com a pressão originada com a falta de gols. Continuar atacando para garantir uma vitória ou se segurar para não levar o gol? Continua faltando um líder dentro de campo, não para ter ataques histéricos com os colegas, mas para passar aos jogadores a tranquilidade que um time precisa em momentos como esse. Esse cara poderia ter sido Emerson, mas a direção não o quis. Vai entender.

Por outro lado, tivemos coisas boas. A classificação foi uma delas, claro. Mas o que se destacou foi a solidez defensiva. O Caracas nada criou durante aproximadamente oitenta e cinco minutos. Somente ao final, com o nervosismo à flor da pele e o cansaço batendo, o Grêmio bobeou por duas vezes e quase entregou a partida. Mas Léo e Réver estiveram bem, Túlio carregou com eficiência o piano à frente da defesa e Adílson provou mais uma vez ter a capacidade de ser um grande jogador. Ainda precisa evitar certos exageros, mas será um volante completo em alguns anos.

Entre altos e baixos, passamos. Aos trancos e barrancos, estamos entre os quatro finalistas da Libertadores. E, como nenhuma das equipes está a ponto de bala, temos boas chances de chegar ao título. Vai ser difícil, vai ser sofrido, vai ser chorado. Vai ser como o Grêmio gosta. O jogo de ontem serviu para duas coisas: confirmar a classificação e despertar nos atletas e na torcida o verdadeiro sentimento da Libertadores. Serviu para acender, no peito de cada gremista, a chama da vitória.

A Libertadores começou ontem. E termina, para nós, no dia 15 de julho, com mais uma faixa no peito.

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