segunda-feira, 18 de maio de 2009

TE MEXE, AUTUORI!

Por Ricardo Lacerda


Culpado pela crise financeira mundial, pela febre amarela e muito provavelmente pela gripe suína, Celso Roth foi-se embora da província há pouco mais de um mês. Excomungado pela imensa maioria de nós, gremistas, deixou um legado que permaneceu inalterado por Rospide. Ora, se estava tudo tão errado, por que o interino não mudou alguma coisa? O que Ibsen Pinheiro disse um dia foi aplicado no Grêmio: “mudar não mudando”.

Rospide deu continuidade ao que Celso Roth propôs. Os jogadores, inclusive, parecem acreditar que o time e o esquema tático estão corretos. Se funcionou no ano passado, e agora contra Aurora, Boyacá, La U, San Martin... por que não funcionaria contra Santos ou Atlético Mineiro? Pois é, deu breque. Imaginem quando estivermos diante de um Cruzeiro? Tudo bem, mata-mata, o Olímpico ferve, mas apostar novamente na torcida como elemento de diferenciação – tal qual em 2007 – não dá.

Celso Roth, o bode que leva as culpas pelos insucessos do Tricolor e pelos infortúnios do mundo, despediu-se do Grêmio somente sábado. Ele, vitorioso; nós, derrotados. O cúmulo. Hoje, Rospide passa a bronca para Autuori. Como nossos feitos costumeiramente são epopéicos, a vinda do novo treinador me lembrou a Odisséia, de Homero: Autuori era Ulisses retornando da Ítaca, enquanto a diretoria se fazia passar por uma paciente Penélope.

A partir de hoje, será preciso “mudar mudando”. E a mudança começa pela casamata. Quem assume tem pedigree. Carrega no currículo, entre outras coisas, um Brasileiro, duas Libertadores e um Mundial. Por alto, não recordo de treinador que tenha chegado ao Olímpico com tanta grife. Espinosa, Felipão, Tite e Mano: todos são filhos do Rio Grande e estavam no começo da carreira. Tradicionalmente, nos damos bem com profissionais do pago, mas dessa vez era preciso trazer alguém como Autuori. Em meio a uma competição do porte da Libertadores, não se poderia arriscar.

Se Obama soubesse quem é Autuori, diria que “ele é o cara”. Esperamos que seja. Muito além de uma aposta, o ex-treinador de times como São Paulo e Cruzeiro é o primeiro ponto com nó dado por Duda. É o primeiro reforço de peso da nova diretoria, e não admitimos que seja o único. Estamos esperando Renato e Rafael Carioca. Não vêm? Que busquem outros do mesmo naipe. Não tem grana? Deem jeito. Somos um clube cheio de sócios, que sempre tem ótimo público e renda. Além disso, temos uma marca forte, posicionamento global e reconhecimento. Por que Fluminense, Palmeiras e São Paulo, por exemplo, conseguem parceiros para bancar contratações caras e por aqui elas são tão poucas? Por que Grêmio e Inter seguem reféns da miséria paga pelo Banrisul? Enfim, aí já desviei o assunto, que pode até ser debatido num outro post.

O papo é o adeus a Roth, ainda que Roth já não estivesse mais aqui, e as boas-vindas a Autuori. Mais do que um “bem-vindo”, a primeira palavra que ele tem que ouvir é “mexe!”. O tal “mexe” pode ser de diversas maneiras. Pode mexer no esquema tático; pode mexer na pontaria de Jonas; pode mexer na “vontade” do Tcheco e na braçadeira de capitão; pode mexer numa cartola e fazer ressurgir o futebol de Alex Mineiro. São muitas as possibilidades. São muitas as coisas a se fazer.

O que seria inadmissível à Autuori é justamente não mexer em nada. O caldo tende a entornar na Libertadores. O Caracas não é tão mumu assim, mas ainda é pior do que quase todos os times do Brasileirão. Já patinamos por duas rodadas num campeonato em que não se pode patinar. Estamos correndo atrás. A diretoria precisa acelerar a busca por gente qualificada para o plantel. De resto, a coisa toda é com Autuori. E antes que salte alguém gritando que ele treinou o Inter e não deu certo, lembro que aquele era um Inter que por gerações foi mero coadjuvante. Um Inter que não ganharia nem com Felipão ou Ferguson, nem com Telê ou Minelli. Aquilo de 99 não era esse neo-Inter, um recém-nascido muito promissor, confesso.

A bola tá contigo, Autuori. Te mexe! Para quem não sabe, o ditado correto diz que “quem tem boca, vaia Roma”. Roth foi embora porque a torcida gremista “teve boca e vaiou Roth”. Mas não custa nada lembrar que também se diz que “quem tem boca, vai a Roma”. Aí me dou conta de que “quem tem time, vai aos Emirados Árabes”, onde acontece o Mundial no fim do ano. Esperando por este time, até a pé nós iremos. Assim, me voy.

Nenhum comentário: