segunda-feira, 25 de maio de 2009

PAULO AUTUORI É MARRENTO.

Por Silvio Pilau

Conheço gaúchos que odeiam cariocas. Simplesmente desprezam essa espécie de brasileiro. Não por eles terem nascido na cidade maravilhosa e os meus conterrâneos sentirem inveja das praias e belezas naturais da ex-capital nacional. A repulsa deve-se ao fato de que, segundo estes gaúchos, os cariocas são as pessoas mais marrentas e metidas do Brasil. Acham que são os melhores, que tudo o que vem do Rio é mais bonito e que todo o resto do país sonha em ser carioca.

Se essa percepção é acertada, eu não sei. Não tenho tanta vivência assim no Rio para poder opinar. Mas acho que há, sim, um fundo de verdade. E Paulo Autuori, o novo treinador do Grêmio, é um exemplo disso. Na realidade, não sei dizer se Autuori é carioca por natureza, mas o sotaque entrega que ao menos ele viveu boa parte da vida lá. E, por isso, adquiriu boa parte das características que fazem os cariocas serem odiados por alguns: a autoconfiança exacerbada, um certo tom blasé ao conversar e, principalmente, a fala repleta de afetações.

Fato é que Paulo Autuori é marrento. Marrento como um carioca da gema. Mas de um modo natural. De uma maneira inofensiva. Nas entrevistas, por vezes sente-se uma espécie de enfado em sua voz, como se falar com os jornalistas e dar explicações sobre a equipe não fossem atitudes dignas para uma pessoa como ele. O tom é baixo, as palavras parecem murmuradas sem a menor vontade e a constante utilização do “cê tá me entendendo?” parecem tratar o interlocutor como alguém intelectualmente desprivilegiado.

Parecem. Autuori é marrento, mas não é arrogante. Acredita em si mesmo, mas não menospreza os outros. Na verdade, sua “marrência” não passa da certeza de ser realmente capaz de fazer aquilo pelo qual foi contratado. Paulo Autuori é um treinador vencedor, um estudioso do futebol, alguém que realmente entende o que é necessário para se montar um time. Um técnico inteligente, estratégico e que vê o futebol como um todo ao mesmo tempo em que consegue explorar as individualidades de cada atleta.

Mais do que tudo, Autuori compreende o lugar onde se encontra. Em todas as entrevistas que vi, li ou ouvi dele desde que chegou, o treinador sempre mencionou o fato de que o Grêmio não pode perder as suas características básicas: a raça, a garra e o coração. Claro que ele vai imprimir o seu estilo na equipe, mas o fará sem perder aquilo que fez do Grêmio o clube diferenciado que é. Autuori fará o Grêmio jogar de acordo com suas convicções pessoais, mas também de modo fiel à história do próprio clube.

E é isso que pode fazer toda a diferença. Roth, por exemplo, não é o pior técnico do mundo. Mas é prepotente, teimoso e acha que apenas a sua visão está certa. Segundo ele, nunca errou. Autuori me parece mais aberto, mais propenso a aceitar opiniões e críticas. Apenas compreender que o Grêmio é muito mais do que ele, muito maior do que qualquer treinador ou jogador, já demonstra que a troca de comandante foi muito saudável.

Se Paulo Autuori dará certo ou fará história no Tricolor, somente o tempo dirá. Mas começou dando os passos certos. Apertando as teclas certas. E dando esperanças para a torcida. Pode ser marrento, pode até se achar um pouco. Mas entende de futebol. Entende o que a torcida espera do time e de seu técnico. E entende, acima de tudo, tudo o que o Grêmio representa. Ou seja, tudo aquilo que é necessário fazer história aqui.

Cêis tão me entendendo?

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