segunda-feira, 11 de maio de 2009

O FIDALGO TRICOLOR.

Por Silvio Pilau

No início de 2008, o Grêmio passava por um processo de reformulação completo. Após um longo período, Mano Menezes deixava o comando do Tricolor para buscar novos desafios em São Paulo e a equipe que ele montou começava a se desfazer. A direção, então, partiu para as contratações. Diversos jogadores vieram, boa parte deles nomes desconhecidos, encarados com desconfiança pela torcida. Entre eles, estava um zagueiro de nome estranho e aparência ainda mais: Réver.

O amor com a torcida não foi não foi à primeira vista. Na verdade, duvido que algum torcedor esperasse grande coisa de Réver. Àquele momento, o zagueiro era apenas mais um que vinha dentro da sacola dos contratados. Sua compleição física – alto e magro – passava logo de cara a idéia de se tratar de alguém desengonçado, sem agilidade, que parecia mais apto a estrelar uma comédia pastelão do que assumir o difícil posto de zagueiro de um dos clubes mais vencedores do Brasil.

Pois Réver acabou aquele ano como o melhor zagueiro do Brasileirão. E ninguém que tenha acompanhado o campeonato poderia contestar essa afirmação. Em menos de doze meses, Réver saiu de mera aposta de um time em reformulação para talento indiscutível do futebol brasileiro. Talvez até mais importante, conquistou a admiração e, acima de tudo, a confiança da sempre exigente torcida gremista. E conseguiu isso destilando talento, garra e uma surpreendente classe dentro de campo.

Normalmente, diz-se que um zagueiro firme, capaz de impor respeito, é um xerife. Réver, no entanto, não é um xerife. De um xerife espera-se uma certa dose de rudez e grosseria. Alguém que exibe seu poder através de métodos nada requintados. Réver não se encaixa nessa definição. O zagueiro gremista sabe ser duro quando necessário, mas o faz sempre com classe. Sempre de maneira certeira. A imagem típica de um xerife em meio à poeira e circulando por saloons do velho oeste não se encaixa nele. Réver tem postura de quem pertence à realeza. Um verdadeiro nobre de chuteiras.

E isso fica muito claro quando tem a bola nos pés. O esguio zagueiro gremista não é adepto a chutões – ainda que o faça, quando necessário, e sem qualquer medo. Seu corpo inusitado para um jogador de futebol esconde um futebol sofisticado, com toques simples e eficientes. Quando tem a bola nos pés, seus quase dois metros transmitem a ideia de que irá perdê-la a qualquer momento. Os dois parecem não se entender. Uma ideia que logo se revela equivocada, quando Réver a coloca no chão com intimidade, a distribui com inteligência e ousa com dribles curtos e bem-sucedidos.

Tudo aquilo que o transformou em ídolo gremista foi posto em prática ontem, na partida contra o Santos. Na estreia tricolor no Brasileiro, Réver foi grande, mais uma vez. Jogando quase como um volante, constantemente saindo para o jogo, demonstrou sua capacidade, que foi coroada com um gol muito comemorado. Ao mesmo tempo, foi implacável na marcação, vencendo quase todos os duelos pessoais e comandando a equipe como um verdadeiro líder e capitão deve fazer. Réver, apesar de sua pouca idade, exala maturidade e autoconfiança que passam tranquilidade à torcida.

Se Réver será novamente eleito um dos melhores do país, somente o tempo dirá. Aposto que sim. Mais do que talento, nosso longilíneo defensor exibe uma regularidade impressionante na qualidade de suas atuações. E, na verdade, ser reconhecido pelo Brasil não é fundamental. Réver pode ficar tranquilo, pois já conquistou um lugar especial onde realmente importa: no coração da apaixonada torcida gremista.

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