terça-feira, 12 de maio de 2009

SOBRE TURISTAS E CORNETEIROS.

Por Ricardo Lacerda

Sete minutos. Foram parcos 420 segundos de festa. Do gol de Réver à punhalada de Molina. É brabo ter que admitir, mas não senti nem de longe a paixão e o comprometimento da torcida neste domingo. Foram míseros sete minutos de cantoria entusiasmada. Bem na metade do “pingos de amor”, bola na gaveta do Victor. Tirando a Geral e a Velha Escola - onde a festa até titubeou, mas não parou - o resto emudeceu.

Não foram poucas as vezes em que vi 10 mil pessoas gritarem bem mais do que as 45 mil de domingo. Aliás, conseguimos o recorde de público da primeira rodada. Dessas 45 mil, 20 mil eram senhoras e senhoritas, cujo “ingresso 0800” fez com que embelezassem o Monumental ainda mais. Anel inferior entupido, cadeiras cheias. Tinha tudo para ser daqueles jogos em que abafar o adversário do primeiro ao último minuto é obrigação. Mas não foi por aí... A partida não estava lá essas coisas e a dificuldade de fritar o peixe foi deixando muita gente inquieta, especialmente os turistas de estádio.

Pior do que não apoiar é cornetear. Se é pra xingar, fica em casa, mané. Xinga a televisão, o Paulo Britto, o Galvão, a mãe do Badanha! Agora se o vivente se dispõe a ir ao estádio, que vá pra apoiar. Domingo bonito de sol, Dia das Mães, perfeito para um “programa diferente”. Resultado: milhares de turistas de máquina fotográfica em punho. Mal olhavam o jogo. O visual, pelo menos, estava maravilhoso. Não vão pensando que condeno a presença das meninas. Muito pelo contrário, seria tão mais agradável se tivéssemos 20 mil mulheres amanhã à noite pela Libertadores. Melhor ainda se elas ocupassem o lugar dos corneteiros.

Vaiaram além da conta o Rospide quando sacou Maxi Lopez. Depois do jogo, o interino explicou que já no intervalo o centroavante tinha manifestado desconforto em função de um lance no começo da partida. É incrível como nós, torcedores, somos passionais. Muito se ouvia que Rospide deveria ser efetivado, que era bom treinador, que era barato, entre outros quetais. Bastou tirar um atacante e colocar um volante que já ganhou a alcunha de “discípulo do Roth”. Ora bolas, não estava evidente que ele é, sim, discípulo do Roth? Afinal, manteve o mesmo esquema, o mesmo time, etc. De mocinho a vilão. De nome mais aplaudido a culpado por um empate desgostoso. Nem sabemos o que se passa nos bastidores. Rospide tem autonomia para mexer no time, de fato? Ele sabe que o melhor a fazer, enquanto esquenta o banco do Autuori, é o feijão com arroz. Demorou cinco jogos para sentir o quanto pode ser implacável uma torcida.

Também quero o 442. Com a formação atual, o time tem falhas, sim. Ficou claro que os alas têm dificuldades, em especial Fabio Santos, que acerta pouquíssimos cruzamentos e cobre mal a defesa. A cada dia, novos adeptos ao coro anti-Tcheco. Há tempos digo que ele já passou. O capitão (!) oscila momentos de dedicação e bravura com outros de sonolência e aparente desinteresse - muito mais estes, aliás. Tenho a minha opinião, não acho que tudo são flores, mas nem por isso jogo contra quando estou na terra santa. Autuori vai precisar aparar urgentemente algumas arestas se quiser vencer a Libertadores e não fazer feio no Brasileiro. A primeira aresta a ser aparada é justamente a chegada do hômi. Algumas outras são mudar o esquema, passar uma carraspana no capitão e colocar óculos em Jonas. Apesar de o Mineiro não ter mostrado muita coisa, ainda defendo um time no 442 com ele e o Maxi na frente.

Espero que Rospide mantenha o aproveitamento que vem tendo, que é excelente. Espero que não sejamos burros de fazer terra arrasada por causa de um empate. Espero não mais ouvir os arautos da vaia e, principalmente, espero ver 20 mil mulheres pagando ingresso e comparecendo a todos os jogos daqui para frente. Com toda essa esperança, que não é pouca, me voy.

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