quinta-feira, 2 de abril de 2009

RIVALIDADE CENTENÁRIA

Por Silvio Pilau


Batman e Coringa são inimigos. Sempre foram. Desde aquele seriado trash com as onomatopéias pululando na tela. Talvez até desde antes, das histórias em quadrinhos. Mas no filme Batman – O Cavaleiro das Trevas, Christopher Nolan acrescentou uma doentia camada ao relacionamento entre os dois. Uma espécie de dependência, de necessidade da presença do outro. Isso fica claro no diálogo:

BATMAN: Então por que você quer me matar?CORINGA: Eu não quero matá-lo! O que eu faria sem você? Voltar a extorquir mafiosos? Não, não, não! Não. Você... Você me completa.

O que o palhaço de Heath Ledger quis dizer é que, sem o Morcegão, sua figura anormal, cheia de cicatrizes e maquiagem não faria qualquer sentido. O Coringa precisa do Batman assim como o Batman precisa do Coringa. Saber que, do outro lado da moeda, existe um maluco tão maluco quanto a si mesmo, dá sentido à vida e as ações de cada um dos personagens.

Batman e Coringa são, de certa forma, Grêmio e Inter. Não que os dois maiores clubes do Sul do país sejam inimigos. Mas são rivais. São opostos. São preto e branco, fogo e água, alto e baixo. E um precisa do outro. Tudo o que um faz tem repercussão no outro. Um não seria nada sem o outro. Assim como disse o Palhaço do Crime, eles se completam. Queiram ou não os torcedores, o Grêmio é parte do Inter. Queiram ou não os torcedores, o Inter é parte do Grêmio.

Sinceramente, acredito que o Grêmio não teria conquistado todas as glórias que possui sem essa rivalidade. O fato de haver constantemente alguém a superar, de ter alguém no outro lado da gangorra, é sempre um incentivo. Dar à torcida gremista o subsídio para vencer discussões com colorados é, inevitavelmente, parte intrínseca da motivação de jogadores, diretores e comissão técnica para buscar sempre o melhor. Claro que não a única, mas faz, sim, muita diferença.

E o mesmo vale para o outro lado. Tenho certeza absoluta de que, caso o Grêmio não fosse bi-campeão da Libertadores e campeão do mundo, o Inter não teria disputado a Libertadores de 2006 da forma que disputou. Claro que entraria para ganhar, mas não com tanta gana e vontade. A torcida colorada precisava, há 23 anos, de uma resposta para dar aos gremistas. Certamente isso fez muita diferença na caminhada colorada naquele ano terrível para todos os azuis.

Por isso, a rivalidade entre Grêmio e Inter, às vezes estupidamente confundida com ódio e hostilidade, é uma realidade. Uma realidade saudável. Não é o desejo de ver o outro acabado, esmagado e sangrando. É, por outro lado, o incentivo primordial para desempenhar um trabalho cada vez melhor. Para ser cada vez melhor. Antes de – e para – superar o outro, é preciso superar a si mesmo. É preciso estar em constante evolução. A sombra vermelha que paira sobre o Olímpico, assim como o vulto azul que persegue os colorados, é uma constante lembrança de que nenhum dos clubes pode parar.

Essa é uma rivalidade forjada em provocações, em discussões, em farpas. Mas, acima de tudo, uma rivalidade erigida em torno do respeito. Se este não existisse, se tudo o que o outro clube já conquistou não fosse digno de respeito e admiração, a rivalidade nada seria. Ou, ao menos, não seria tão acirrada. Um antagonismo do tamanho do existente entre Grêmio e Inter somente é possível por se tratarem de dois grandes clubes, com História, títulos e torcidas completamente apaixonadas.

Por isso, o centenário que o Inter comemora essa semana é um marco que merece homenagens até por parte dos gremistas. A entrada dos colorados no grupo dos clubes seculares merece essa reverência porque deve existir reconhecimento até entre rivais. Deve haver respeito. Respeito pela História construída pelo Inter. Respeito a jogadores como Figueroa e Falcão. Respeito a um clube quatro vezes campeão nacional, campeão da América e campeão do mundo. Respeito a um dos maiores clubes do Brasil.

Não que nós, gremistas, iremos comemorar o centenário. Longe disso. Mas os colorados merecem, sim, nossos parabéns. Merecem uma congratulação sincera, alheia aos aviltamentos, ainda que fundamentada na rivalidade. Merecem isso por tudo o que o Inter é e representa, mas merecem, principalmente, por ajudarem a fazer do Grêmio tudo o que o Grêmio é e representa. Porque Inter e Grêmio se completam. Como Batman e Coringa do Nolan. Mesmo que, assim como o Mundial e a Libertadores, o centenário deles tenha vindo anos depois do nosso.

Vocês não achavam que eu passaria o texto inteiro sem dar uma alfinetada, achavam?

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