quinta-feira, 30 de abril de 2009

É PRECISO ENTENDÊ-LA.

Por Silvio Pilau

Essa é uma mensagem para jogadores, direção, torcida e comissão técnica (seja ela qual for): esqueçam tudo o que aconteceu até aqui. Apaguem da mente. Não é mais hora de ficar pensando em melhor campanha, melhor ataque, melhor defesa. Não é mais hora de ficar comemorando. A trajetória gremista até o momento foi praticamente impecável, mas é passado. Tudo o que ocorreu deve ser deixado para trás. A Libertadores da América, a verdadeira Libertadores da América, começa agora.

Não nos deixemos ser iludidos. O Grêmio teve a sorte de cair naquele que provavelmente era o grupo mais fácil de toda a competição. Fato. Felizmente, fizemos a nossa parte sem maiores problemas. Passamos pelos adversários como deveríamos ter feito, ao natural. Fomos a equipe com o maior número de gols marcados e o menor número de gols sofridos. Jogamos, na maioria das partidas, um futebol convincente, com muitas oportunidades criadas e sem grandes perigos na defesa. Mas, repito, não nos deixemos iludir.

Até agora, o que jogamos foi um Gauchão com grife. Nada mais do que isso. Enquanto outros, como Palmeiras e Sport, já começaram o torneio com pedreiras, enfrentamos times que teriam dificuldade em se classificar para a segunda fase do nosso regional. Por isso, muito cuidado ao achar que estamos indo bem. No campeonato, sim, afinal, classificamo-nos em primeiro. Em termos de equipe, ainda não. Nosso time precisa evoluir, e muito. Nossos jogadores ainda precisam compreender o que é uma Libertadores. Somente quem entende a essência da Libertadores da América pode vencê-la.

A Libertadores, essa competição que tem início agora, é decidida no detalhe. Um centímetro, um segundo, uma gota de suor podem fazer a diferença entre a glória e mais um fracasso. Na verdadeira Libertadores, não existe favoritismo. Ninguém é melhor do que ninguém. Até porque, na Libertadores, o talento não leva à vitória. Talvez em nenhuma outra competição o talento fique tanto em segundo plano. Vence o mais guerreiro, vence o mais disposto, vence aquele que compreende não se tratar unicamente de futebol, mas de lutas e batalhas.

No entanto, é preciso cuidado. Os novatos confundem raça com violência. A Libertadores é um lugar de garra, de gana, de malandragem, mas não de violência. Sandro Goiano, por exemplo, foi expulso no primeiro tempo da final de 2007 e custou ao Grêmio o troféu. É preciso brigar pela posse de bola, sacrificar-se pelo gol, intimidar o adversário. Mas é necessário compreender os limites entre a disposição e o exagero, entre a vontade e a insolência. Para um jogador, é difícil compreender essa tênue linha. E é nisso que alguns dos nossos não estão preparados.

Sinto que falta no Grêmio um capitão. Falta um líder. O Grêmio de hoje não possui um Dinho. Não possui um Fernandão. Uma competição como a Libertadores precisa de alguém que tenha a coragem de chegar para Adílson e dizer para ele jogar simples. Precisa de alguém que enfie o dedo na cara de Souza e diga que, sim, ele tem bola, mas jogar pelo time é a única forma de alcançar algum resultado. Tcheco é uma adolescente fraca e nervosa que deveria estar no banco, não usando a braçadeira. Mesmo com toda a sua experiência, Tcheco ainda parece não conhecer a Libertadores.

Acredito, porém, que o time é capaz de ir longe. Mais do que acreditar, tenho certeza que o Grêmio vai longe nessa Libertadores. Boa parte da equipe já compreendeu o que é essa competição. Os que ainda não entenderam, estão a caminho. E, para ajudar, temos bons jogadores, capazes de decidir quando o negócio aperta. Podemos melhorar? Claro. Devemos. Mas tenho certeza de que essa primeira fase, por mais fácil e sem desafios que tenha sido, serviu para calejar os nossos atletas. Serviu para prepará-los. Serviu para fazer com que entendessem a essência da Libertadores.

Assim espero. Porque ela começa agora.

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