segunda-feira, 6 de abril de 2009

CHICO XAVIER EXPLICA

Por Ricardo Lacerda

O Grenal desse domingo me deixou incrédulo com mais uma injustiça do futebol, esse ópio maravilhoso que às vezes nos prega peças nem tão maravilhosas assim. Passado um tempo depois do jogo, já no conforto do lar, matutando se colaria aqui uma receita de bolo ou tentaria trazer algo mais interessante, eis que uma coisa muito esquisita acontece: fico tonto, uma voz ecoa na minha cabeça, minha mão treme... pego caneta e papel e, subitamente, começo a escrever, meio a la Chico Xavier:

No meio do caminho tinha uma trave tinha uma trave no meio do caminho tinha uma trave no meio do caminho tinha uma trave.

Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma trave tinha uma trave no meio do caminho no meio do caminho tinha uma trave.

Quando vi, estava ali um amontoado de palavras, preto no branco, e eu atônito ao mirar estas dez linhas que não são de minha autoria. De maneira alguma quero soar pretensioso, mas parece que psicografei uma mensagem de ninguém menos do que Carlos Drummond de Andrade. A adaptação daquele que talvez seja o mais célebre poema do modernista mineiro me fez lembrar a cabeça de Jonas e a pata direita de Souza.

Dali a pouco, uma nova voz, outro tremor... papel, caneta e... pimba!

- Eu amo o Grêmio! Eu detesto o Inter! Eu creio no Duda! Duda é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou gremista.

Opa! Comecei a gostar dessa história de psicografia. Dessa vez, o recado veio assinado por um tal de Mário. Que Mário? Ora pois, o Quintana, aquele das coisas simples. O poeminha “simultaneidade”, do maior bardo da terrinha, ganhou novo contorno, passou uma maquiagem e resumiu magistralmente o que sinto. Talvez o que todos nós, azuis, sintamos nesta segunda-feira.

Pois é, somos gremistas. E o Gaciba? Não sei, não sabemos, ele é profissional. E como todo bom profissional, deve se olvidar de paixões quando está trabalhando. Mas por que diabos fui pensar no Gaciba, se posso falar mais da maestria de Quintana e Drummond? Dois poetas cujos corpos se foram, mas hoje são estátuas que adornam a Praça da Alfândega. Pois bem, é que lembrei dum causo: no fim de 2007, o livro de bronze que Drummond trazia em suas mãos, vindo ao encontro de Quintana, ali sentado, foi roubado. Larápios de cultura alheia levaram a “obra”, tal como o futebol às vezes o faz: foge com a justiça, esconde a sorte, e, vez que outra, nos rouba um ou outro pênalti, por exemplo.

Provisoriamente, alguém colocou nas mãos de Drummond um livro real. O nome: “Diário de um ladrão”, do francês Jean Genet. Espirituoso quem sugeriu Genet, né!? Pois bem, como num círculo vicioso – e que de virtuoso nada tem –, dias depois acabaram passando a mão nesse reles livro de papel. A coisa se repetiu!

Hoje, a intenção é fugir do óbvio. Arautos do óbvio existem às pencas por aí. No senso comum, rezará a cartilha de que é o momento da rebeldia e de apupo. Que nada! Que se calem os hereges, e que sobrevivam apenas aqueles que buscarão no anoitecer desta terça-feira um passo rumo ao seu destino. Como ensinou Sartre, que por sinal não me deu o prazer de sua companhia, o homem nada mais é do que o seu projeto. Nós, homens feitos de azul, preto e branco, temos um projeto estabelecido e bem delineado.

A quem me concedeu este inusitado dom da mediunidade, peço que da próxima vez convide o genial Paulo Leminski para nos ensinar alguma coisa. Enquanto ele não aparece, busco nos meus alfarrábios algo deste curitibano maluco, e que tem muito a ver com o que nós, gremistas, somos.

vida e morte
amor e dúvida
dor e sorte

quem for louco
que volte

Voltaremos, sim, Leminski. Somos loucos, e nesta terça, todos os caminhos levam ao Monumental! Isso é o que espero de vocês. Eu, com certeza, me voy. Falando nisso, Roth se fué.

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