quinta-feira, 5 de março de 2009

QUE SEJA PELO GRÊMIO.

Por Silvio Pilau

Foram três dias de bombardeio. Segunda, terça e quarta. Nessas setenta e duas horas, nosso treinador foi alvo de petardos de todos os lados. Torcida, imprensa, direção. Colunistas do Final Sports. Até dos jogadores, quem sabe? A pressão em cima de seu corpo rechonchudo tornou-se praticamente insustentável. Pediam-lhe a cabeça de forma definitiva. Voltou à tona a questão seu salário desproporcional. Faltou apenas uma caminhada furiosa com a turba portando tochas e foices.

No entanto, ele se segurou. Com a segurança e auto-confiança características, o treinador se manteve em pé. Utilizou o corpitcho reforçado como uma verdadeira barreira aos tiros. As investidas ricochetearam e só não voltaram aos agressores porque seria difícil descobrir a origem diante de tantos ataques. Mas ele ficou. Inabalável, sisudo, despreocupado. Ele continuou. Continua. Permanece como o comandante. Seguirá, a contragosto da maioria, liderando o esquadrão tricolor na jornada rumo ao topo da América.

A luta solitária de Celso Juarez Roth contra as hordas ensandecidas de gremistas clamando por sua cabeça não é um capítulo inédito na história tricolor. Já ocorreu outras vezes, em passagens anteriores do treinador pelo Largo dos Campeões. A mais recente, porém, foi no primeiro semestre do ano passado. Todos devem lembrar. Foi logo após as quartas-de-final do Gauchão. O Grêmio recém havia sido eliminado da Copa do Brasil pelo inexistente Atlético-GO e iria defender, no Olímpico, a vantagem adquirida na primeira partida contra o Juventude.

O que aconteceu todo mundo sabe. Caímos de forma vergonhosa, tomando três a dois em um estádio lotado de gremistas confiantes. O que se seguiu foi algo semelhante ao ocorrido nos três últimos dias: manifestações intensas contra a permanência de Celso Roth no Olímpico. Parecia que ele não iria aguentar. Mas, por alguma razão, a diretoria resolveu apostar no treinador. Contra todos, decidiu bater o pé. O resultado foi uma belíssima campanha gremista no Brasileirão. Uma campanha surpreendente que deve, indiscutivelmente, mesmo que digam o contrário, muitos méritos a Celso Roth.

Chego agora, finalmente, depois dessas linhas tortas de devaneios, ao ponto principal desse texto. Neste instante, hoje, estamos em um momento semelhante àquele pós-queda diante do Juventude no último ano. O ódio contra Roth e a desconfiança em relação à equipe estão altas – assim como estavam naqueles dias. Mas, há quase doze meses, isso acabou ajudando o Grêmio. A equipe renasceu com força redobrada após a catástrofe. O grupo se uniu, o treinador deu a volta por cima e o Grêmio só não levou o caneco por detalhe. Logo nos primeiros jogos, a torcida recobrou a confiança no time e, como sempre, não parou de apoiar mesmo após o apito final do árbitro na última partida, em dezembro.

Não digo que o mesmo irá acontecer agora. Não possuo poderes paranormais para afirmar isso. Mas, por que não poderia? O momento no Olímpico é de turbulência, tal qual ano passado. É a hora do grupo conversar, baixar a cabeça e trabalhar. Corrigir os erros. Buscar soluções. Retornar com a cabeça erguida. É a hora de Celso deixar seu passado de erros, quase-títulos e arrogância para trás e mostrar que tem, sim, estrela. Tudo bem que ela ainda não apareceu, mas se até Abel Braga foi campeão do mundo, por que não esperar algo mais de Roth?

Antes que me xinguem por defendê-lo, digo que não o faço. Sou o primeiro a criticar Roth quando ele erra, como fiz na minha última coluna. O fato é que nada podemos fazer a respeito agora. Ele ficou. A diretoria o segurou. Até, ao menos, a próxima partida na Libertadores, Celso será o nosso técnico. Até lá, temos três jogos. E, a nós, só nos resta apoiar. Só nos resta torcer e cantar. Se não pelo técnico, que seja pelo time. Que seja pelo Grêmio. Porque é isso o que fazemos de melhor.

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