segunda-feira, 30 de março de 2009

PATRIOTISMO TRICOLOR

Por Silvio Pilau


Então eu assisti ontem ao jogo da seleção. Sem muito ânimo, ainda de ressaca da noite anterior. Parei à frente da TV mais por inércia, porque final de semana sem futebol na telinha não dá. E o que vi foi uma das coisas mais pavorosas dos últimos tempos. Vergonhoso. A equipe formada por Dunga exalava apatia por todos os poros. Altitude? Aceito que ela colabore para prejudicar a apresentação de um atleta, mas nada justifica o fiasco feito ontem pelos jogadores. Ronaldinho parece jogar por obrigação, Robinho continua se achando sem apresentar nada e Felipe Melo na seleção? Tá bom...

Ninguém questiona o fato de que o resultado foi uma das maiores injustiças futebolísticas dos últimos anos. Júlio César encarnou nossa barreira chamada Victor e pegou tudo. Ou melhor, quase tudo, porque no gol equatoriano ele não tinha muito o que fazer. E os jogadores do Equador pareciam querer imitar o ataque gremista, pressionando, criando chances e não conseguindo fazer a pelota repousar nas redes. Foi, a exemplo do que escrevi após Grêmio e Universidad, uma chacina sem vítimas. Um verdadeiro massacre equatoriano em cima dos apavorados canarinhos.

Mas estou me enrolando. Esse é um espaço sobre o Grêmio, não para comentar a seleção brasileira. Fiz essa abertura falando sobre o jogo de ontem porque me dei conta de algo em meio à partida. Na verdade, sempre soube disso, mas ontem ficou mais claro. O que estou querendo dizer para vocês é que simplesmente não existe comparação entre os sentimentos que temos pela seleção e os que temos pelo clube de nosso coração.

Tudo bem que falo por mim. Isso é como eu sinto e não posso afirmar que esses meus sentimentos sejam os mesmos para outras pessoas. Mas, sinceramente, não dou a menor bola para o que acontece com a seleção. Em época de Copa do Mundo, torço para o Brasil. Não com o entusiasmo do Galvão Bueno e de 97% dos brasileiros, mas torço, sim, para que a nossa seleção tenha um bom desempenho e vença. No entanto, é só. Em tudo o mais, o que acontece com a seleção brasileira de futebol é completamente indiferente para mim.

Tomemos a partida de ontem como exemplo. Não fiquei bravo, raivoso ou indignado com a apresentação. Fiquei com vergonha, claro. Sou brasileiro, afinal de contas. Mas só. Quando o Grêmio perde – ou tem uma atuação como a do Brasil ontem -, fico mal após a partida. Tenho a sensação de alguém importante para mim, como um parente ou amigo, passa por um sério problema. A indignação por não poder fazer nada cresce e a raiva de ver a minha mística camisa representada de maneira pífia domina o corpo. Tenho certeza de que o mesmo acontece com todos vocês.

E nada disso aconteceu ontem. Após o apito final do árbitro, apenas indiferença. Por quê? Simplesmente porque a seleção brasileira não é meu time. Não é o distintivo da CBF que faz parte da minha vida desde criança. Meu patriotismo, no futebol, não é verde e amarelo. É azul, preto e branco. Meu país é o Olímpico. Meus conterrâneos são os gremistas. Minha História é a História de Lara, de Foguinho, de Alcindo, de Tarciso. Meus heróis são Baltazar, Renato, Jardel, Felipão.

Essa é a minha nação. Esse é meu orgulho. Não um grupo de jogadores deslumbrados que se reúnem para tocar pagode e dizerem que representam um país. Minha paixão vai para uma camisa listrada em três cores, vestida por homens de fibra e honra capazes de compreender tudo o que ela significa. Os meus sentimentos – de raiva, de felicidade, de indignação ou da mais pura paixão – vão para esse clube capaz de gerar tanto ódio dos outros quanto acumular glórias e faixas no peito. Essa é a minha identidade. Essa é a minha cultura.

Mais do que brasileiro, sou gremista.

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