terça-feira, 10 de março de 2009

PARA SEMPRE GRÊMIO

Por Felipe Sandrin


Havia centenas de pessoas a minha volta, caminhavam na mesma direção, compartilhando os mesmos sonhos a cada passo. Vestiam o mesmo azul que eu, apesar das diferentes formas e modelos: muitas dessas camisas eram iguais, mas, se observadas bem a fundo, notava-se que cada uma delas tinha uma história própria. A minha ia até meus joelhos, foi-me dada maior para que pudesse usar por vários anos – já que minha família não tinha tanta condição financeira.

A maioria dos gremistas tem uma primeira vez no Olímpico. A minha não foi algo menos que nascer de novo, conhecendo algo que me mudaria pra sempre minha forma de amar. Nasci em 1986, portanto, não vi o primeiro título brasileiro, a primeira Libertadores, o inesquecível título mundial – aliás, até a década de 90, fiquei sem entender muito de futebol, sem saber o que era torcer, amar um clube, até que, por algum motivo, em algum sagrado momento, passei a me sentir parte de algo. Foi junto ao azul, branco e preto que descobri os atalhos para a felicidade extasiante e a tristeza incurável.

Felipão ensinou-me a ver palavrões com outros olhos, o baixinho Paulo Nunes tinha a coragem de um leão e o gigante Jardel era nada menos que um herói indestrutível que, quando bem entendesse, esmagava seus inimigos com testadas poderosamente mágicas. Diante de um time que mudava, mas jamais mudava sua característica de luta, aprendi a colecionar títulos. E não importavam os perdidos, pois havia a convicção de que era questão de pouco tempo para novamente estarmos lutando por este. Foi assim contra o Ajax, quando qualquer dor tornou-se meramente ilustrativa ante o fato de uma equipe que a cada ano tornava-se mais forte. Porém, os anos passaram, algumas coisas foram mudando e nosso grande rival, motivo de nossa incessante luta, alimentou-se esperando o momento de acordar.

Logo: Internacional campeão da Libertadores. Internacional campeão do mundo, Internacional campeão de tudo. Meu tio colorado me deu uma camisa do Inter quando eu tinha cinco anos e, por mais de uma vez, usei-a, mas não havia ali afinidade, sabe? Era uma coisa meio forçada, eu podia sentir o vermelho sem vida quando vestia aquela camisa, meu lance mesmo era aquele azul com um símbolo enorme onde a palavra GRÊMIO parecia explodir sendo maior do que tudo, uma pequena palavra que tornava invisível a própria camiseta, tudo que se via ali era GRÊMIO.

Enquanto meus tios saiam a fazer passeata, se diziam donos do mundo, eu estava em casa. Até hoje, eles passam buzinando aqui no bairro, vestindo orgulhosos uma camisa vermelha, falando dos projetos centenários, do estádio que hoje é um dos melhores da America, falam de Pato com orgulho, pronunciam novos nomes que o Inter aposta e que vão dar certo no futebol mundial: hoje em dia, meus domingos são assim, regados de orgulho colorado que eu rebato com aquilo que o Grêmio me ensinou a ter: coragem.

A Batalha dos Aflitos foi um marco, mas o que estava fazendo o Grêmio na Segunda Divisão? Chegar na final da Libertadores é uma dádiva, mas o que aconteceu naquele último jogo? Ficar tanto tempo na liderança de um campeonato que não apostávamos nada era um sonho, mas que maldição dos deuses da bola nos faz subir às nuvens apenas para cair lá de cima despedaçando nossos mais formidáveis desejos?

Eu ainda ouço gritos lá fora, são colorados comemorando a hegemonia nos Gre-Nais, comemorando títulos Sul-Americanos e contratando jogadores que quase ninguém hoje em dia pode contratar, senão os gigantes da Europa. Mas quer saber a verdade? O que ecoa mesmo em mim não são os gritos lá de fora, são os GRITOS DENTRO DE MIM, QUE URGEM O MEU PEITO, QUE ME FAZEM ACIMA DE TUDO SENTIR ORGULHO DE MIM, DE OUTROS GREMISTAS E DO GRÊMIO.

Já passamos por tanta coisa, a década de 70 foi toda do nosso rival, e mesmo que não haja títulos internacionais, era o Rolo Compressor que dominava aqui, era algo nada além do maestro Falcão regido e guardado por iluminado Figueroa: eles também têm sua historia e, por incrível que pareça, desdenhar dela é ser pequeno diante da realidade. Mas houve os que sobreviveram até mesmo ao Rolo Colorado, houve gremistas que transformaram a dor na glória inesquecível das décadas de 80 e 90. E, mesmo assim, os vermelhos sobreviveram, se fortaleceram e hoje colhem o que foi plantado, o que foi trabalhado com muito suor e força de vontade.

Amigos, o Grêmio voltará. E tenham certeza que não será nem mais nem menos do que aquilo que sempre foi: os anos passam, os dirigentes passam, mas NUNCA, EU DISSE NUNCA, há de passar o sentimento que nos faz sobreviver ante as mais dolorosas derrotas: não existe uma década de dor que sufoque meus dias de alegria, quando vestir a camisa do Grêmio era nada menos do que ser algo além do simples Felipe Sandrin.

Tenham fé, tenham força, porque esta é a matéria-prima para tudo em nossas vidas. E quando os dias escuros findarem, sejam os primeiros a lembrar do que nos levou até aquele momento e nunca mais esqueçam dos tempos tristes aos quais sobrevivemos, quando, mesmo com o orgulho ferido, soubemos o que era ser, independentemente de tudo, do Grêmio, maior do que nós mesmos, mas não do que nosso peito.

O Grêmio não é de hoje e a muito já sobreviveu. Por mais que dificuldades surjam, ele sempre volta. É assim que nós o fizemos, céu e paraíso.

Para que no fim a dor seja passageira, e sobrem unicamente as glórias.

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