segunda-feira, 2 de março de 2009

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA.

Por Silvio Pilau


Uma tragédia em três atos.

ATO 1

Celso Juarez Roth não é um vencedor. Ponto final. Não o considero, da forma que muitos o fazem, como um treinador ruim e sem qualidade. Pelo contrário, acho que Roth é, sim, um técnico de certo talento, capaz de montar uma equipe competitiva, especialmente quando ela é formada por jogador medianos e sem grandes estrelas.Digo isso porque Roth já provou sua capacidade nesse sentido. Em diversos campeonatos, o ex-bigodudo era o homem ao comando de equipes que apresentaram boas campanhas, chegando até o final como grandes surpresas de tais competições. No entanto, quando chegava na hora final, no momento da decisão, quando a estrela de Roth precisava brilhar para fazer a diferença, algo sempre dava errado.

Ontem foi mais um exemplo disso. Não que o Grêmio tenha sido genial ao longo de todo o primeiro turno do Campeonato Gaúcho. Não o foi, muito também pela política de poupar os jogadores para a Libertadores. Mas o Tricolor chegou à final, graças ao imenso abismo existente entre as equipes da capital e do interior, e, uma vez lá, caiu. Mais uma vez, perdeu. Novamente, um título escapou das mãos da Roth.Lamentaria se fosse a primeira ou uma das primeiras vezes, mas sabemos que é somente mais uma para o currículo dele.

ATO 2

Noite de quarta-feira, vinte e cinco de fevereiro. O Grêmio fez a estreia na Libertadores da América de 2009 contra o chileno Universidad. Jogando no 3-5-2 que quase consagrou a equipe no ano anterior, a equipe simplesmente patrolou o adversário, em uma atuação de luxo que apenas não rendeu a vitória por azar. Como eu mesmo escrevi, foi uma verdadeira chacina sem vítimas.

Diz o ditado: em time que está ganhando não se mexe. Tudo bem que não ganhamos, mas foi quase, e uma apresentação daquelas pode ser considerado como algo que não deve ser mexido. Com solidez na defesa e criatividade na armação, tudo indicava que o Grêmio entraria no Gre-Nal com os mesmos esquema e equipe da estreia na competição continental. Isso, afinal, seria o mais lógico.

Eis que surge, novamente, Celso Juarez Roth. De forma inexplicável e incompreensível, o treinador simplesmente decidiu modificar o que havia dado certo, fazendo com que a equipe voltasse a jogar com apenas um atacante. Um pobre, solitário, isolado Alex Mineiro imerso em um mar de defensores vermelhos. O resultado não poderia ter sido outro. O Grêmio simplesmente não conseguiu criar, limitando-se a marcar o meio-campo colorado.

Mas quis o destino que Roth voltasse atrás em sua ideia. Tudo bem que isso deu-se unicamente graças ao primeiro gol colorado, porém, ele mudou. E, assim que Jonas entrou, a defesa colorada teve mais alguém com quem se preocupar, Souza ganhou mais espaço e o Grêmio cresceu na partida, chegando ao gol de empate em uma jogada entre – vejam só! – os dois atacantes.

Agora, indago: como teria sido se Roth não fosse tão teimoso em suas idéias e tivesse colocado os dois avantes lado a lado desde o início?

ATO 3

Linha burra. De novo: linha burra. Não linha inteligente, não linha genial, não linha comum, nem ao menos linha sem educação. Linha, simplesmente, burra. Existe um motivo para ela ser chamada assim e juro, de pés juntos, que não é por ela ser brilhante. A linha de impedimento é conhecida como linha burra por uma razão muito básica: ser burra.

Ano passado, por mais que falemos que o Grêmio derrapou em momentos cruciais na campanha pelo título brasileiro, por mais que lamentemos o deslize contra o Figueirense aqui no Olímpico, acredito que o time poderia ter saído com o troféu se não tivesse apelado tanto para a linha burra. Lembro, em minha memória nada estatística e ainda afetada pelo álcool do carnaval, de pelo menos três gols sofridos em cobranças de falta que a zaga saía para deixar o ataque adversário impedido, mas algum idiota sempre ficava dando condições. Lembro de três, mas acho que foram mais – sem contar, claro, aquelas que não resultaram em gols e poderiam ter nos prejudicado ainda mais.

Fazer a linha de impedimento é de uma estupidez imensa. Esse é um risco totalmente desnecessário, pois depende de uma série de fatores para dar certo, inclusive a capacidade e boa vontade de um bandeirinha. O tiro pode sair, e muitas vezes já saiu, pela culatra, custando pontos valiosos em importantes partidas. Ontem, rendeu o primeiro gol colorado. Culpa de Ruy por ter dado condições a Índio? Um pouco, talvez. Mas, ao meu ver, a culpa maior é de quem insiste em continuar fazendo essa linha burra.

E esse papel cabe a ninguém menos que o treinador.

EPÍLOGO

Não há como evitar apontar um responsável pela derrota de ontem. Sou o primeiro a defender Roth quando acerta, mas ontem o Grêmio perdeu mais um Gre-Nal simplesmente por causa dele. Tudo bem que a apatia dos atletas gremistas foi, talvez, a grande arma do Inter, mas o resultado final é consequência das escolhas erradas do nosso treinador.

E minha mente não para de formular pensamentos de que, enquanto Celso Juarez Roth estiver aqui, nada ganharemos. Tomara que eu esteja errado. Torço para que ele cale minha boca. Apoiarei incessantemente para contradizer a mim mesmo. Mas, diante do histórico do treinador e de tudo o que vi ontem, alguém ousa dizer que também não pensou nisso?

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