quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A ESSÊNCIA DE UM CAMPEÃO

Por Silvio Pilau

Muitos já devem assistido o comercial "Hitler", da Folha de São Paulo. Caso não, procurem no Youtube. A peça trazia um conceito impecável: o de que, mesmo sem contar uma inverdade, é possível levar o leitor a ter uma interpretação errada sobre determinado assunto. Hitler, de fato, fez renascer a Alemanha. Foi um grande líder, que reergueu um país em frangalhos após a Primeira Guerra Mundial. Mas o texto omitia o fato de que o Führer era um genocida, responsável direto pelo extermínio de seis milhões de pessoas apenas nos campos de concentração. Dizia somente a verdade, mas, ainda assim, construía uma imagem mentirosa de Hitler.

E isto é mais do que comum nos dias de hoje. Recentemente, como já escrevi aqui, passei por um caso desses. Um grande amigo meu envolveu-se em grave confusão na Indonésia. Lendo as primeiras notícias sobre o caso, eu tinha dificuldades em colocar o jovem que eu conhecia como causador dos incidentes. E os comentários das pessoas somente aumentavam minha confusão. Para eles, que apenas liam as reportagens, quem realizara aquilo era um monstro, um irresponsável que atravessou o mundo para destruir famílias. Para mim, era um irmão, uma pessoa a quem eu confiaria minha vida e a vida de minha família, pagando caro por um deslize.

O ditado de que existem dois lados para todo tipo de assunto é verdade. A frase de Nelson Rodrigues sobre a unanimidade ser burra também. Meu amigo cometeu um erro, sim, mas um erro que qualquer um de nós poderia cometer. Por acaso, eu seria um monstro se, em um acidente, tirasse a vida de alguém? Se cometesse um crime em caso de necessidade, seria eu um marginal? E quantos destes "marginais" não erraram simplesmente em função de desespero? A pessoa que fui até o momento merece ser esquecida? As amizades que fiz? Os conselhos que dei? Os relacionamentos que construí? Os abraços que ofereci?

Quanto, afinal, sabemos sobre uma pessoa? Homem algum cabe em apenas uma definição.
E é exatamente por isso que não entro na onda dos xingam os jogadores gremistas neste momento. Já são vários que entraram nesse coral. Dizem que falta vontade à equipe. Dizem que são um bando de mercenários, nada preocupados se a equipe conquista ou não o título. Uma multidão de gremistas está indignada com a postura do time na reta final do campeonato. Para eles, os jogadores não possuem a atitude necessária para jogar em uma equipe do nível do Grêmio. Os atletas são xingados de displicentes, descompromissados e indignos de vestir a camisa imortal.

Não me juntei a essas vozes. Ainda. E meu motivo é simplesmente este que escrevi no longo início desse texto: não posso afirmar algo que não sei se é verdade. Aprendi isso de vez nos últimos meses. Não conheço qualquer dos jogadores pessoalmente. Nunca conversei ou convivi com eles. Não conheço suas personalidades, seus hábitos, sua força diante das adversidades. Não sei o quanto eles sofreram para chegar a uma equipe da grandeza do Grêmio. Até onde sei, podem ser verdadeiros leões, honrosos imortais, esperando por uma chance de despertar esse lado vencedor.

Pois essa chance chegou. E por isso ainda não os julguei. Porque eles ainda podem provar que são vencedores. Ainda faltam cinco rodadas para o final do campeonato e estamos apenas dois pontos atrás do líder. Dois pontos. É pouco, muito pouco. A vantagem é fácil de ser tirada. Mas, para isso, dependemos dos jogadores. Precisamos deles. Este é meu apelo. Para que abraçarem de peito aberto esta oportunidade de provação que estão tendo. Para que mostrem que estou certo ao não pré-julgar e dar-lhes nova chance.

Mostrem-me isso. Contradigam os gremistas mais céticos. Entrem em campo com o sangue fervendo, com a indignação face à derrota exposta em cada poro do rosto. Pisem no gramado pensando que a vida de vocês depende unicamente da vitória. Provem que existe dentro de vocês a fibra da coragem, a iniciativa da liderança e a capacidade de superação. Demonstrem caráter, integridade e sacrifício na atitude de não deixar outro time levar este título. Exibam honra e hombridade.

É disso que são feitos os verdadeiros campeões.

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