sábado, 18 de outubro de 2008

ÍMPIA E INJUSTA GUERRA

Por Eder Fischer


"Algumas pessoas acham que futebol é uma questão de vida ou morte. Eu discordo. Futebol é muito mais importante que isso". A frase de Bill Shankly, ex-técnico do Liverpool dos anos 60, que abre o filme "Inacreditável, a Batalha dos Aflitos", também abre este texto, não por acaso.
Não espere, hoje, um texto sensato e politicamente correto: com certeza, perderei o pouco de compostura que me resta, talvez seja até insensato, confuso para expor minhas idéias, pois escrevo com o sangue fervendo.

A vingança está entre meus olhos e o monitor, os punhos estão cerrados e o pobre teclado, que não tem nada a ver com a história, corre sério risco de não resistir até o ponto final. O ódio e o desespero que senti hoje, quarta-feira, por volta das 18h, enquanto acompanhava o julgamento pelo site do stjd (em letras minúsculas mesmo), foi muito parecido com o experimentado no dia 26/11/2005. A sensação de impotência, de consumidor lesado, de torcedor frustrado, não chega perto do sentimento de humilhação a que nos submeteram esses nobres engravatados filhos de uma pu... digo, pátria - que, se há algum tempo ainda questionava, hoje tenho certeza de que moralmente me sinto fora.

Aos torcedores gremistas de outros Estados, não se sintam ofendidos: encarem como torcer por um time de outro país. Se ainda assim ficaram de certa forma frustrados, procurem pesquisar além dos livros de História e verão por que somos assim, descobrirão que não é apenas no futebol, mas que em todos os sentidos somos subjugados pelo Brasil desde os tempos de Império.
O sentimento hoje é de guerra, sinto pulsando aquele sangue farrapo que foi passado de geração em geração e ainda corre em minhas veias como gasolina esperando uma faísca para explodir.

Juro que se iniciasse uma guerra agora, estaria lá, na linha de frente, fuzil na mão. Juro mesmo! E antes que alguém diga "calma, é só um jogo, futebol é diversão", digo: será que, se futebol não fosse tão importante, as pessoas gastariam, às vezes, mais do que podem para ir aos jogos?

Será que milhares de pessoas se emocionariam com uma partida de futebol? Será que, se fosse SÓ UM JOGO, parariam uma guerra para assistir a uma partida? Será que seriam gastos milhões na compra de um jogador? Pensem! Agora sabem o porquê comecei o texto com aquela frase.

Neste momento, lembrei de uma professora de História que tive na 5ª série. Em meio à explicação da pré-história, ela abria parênteses enormes no meio da aula e falava-nos dos absurdos que aconteciam a nossa volta e ninguém fazia nada. "Por que os países de primeiro mundo chegaram ao primeiro mundo?", questionava. E antes que alguém respondesse, ela mesma respondia: "Porque eles podem ser pacíficos, mas não são passivos, eles não aceitam a corrupção como nós". E depois ainda complementava: "toda as grandes conquistas da humanidade foram adquiridas junto a derramamentos de sangue". To exagerando?

Se você acha isso, este é o momento pra largar o futebol de mão, pois aqui se separam os Homens dos meninos.

Sinto muito aos que acham radical a minha postura, mas com o espaço que me foi concedido, o qual tenho a honra de escrever e ser lido por torcedores que dividem comigo a mesma paixão, não poderia escrever um texto diferente, não poderia tratar tal situação com ironia ou falar por metáforas. Para mim, isto é coisa séria. Tive que ser cru e direto, pois eles mexeram com o povo errado, eles cuspiram suas babas fétidas em nossa bandeira, molestaram nossa moral, nos trataram como se fôssemos grossos e ignorantes. E o que eles desejam agora é que arranjemos uma taça e gritemos no final do campeonato: campeão moral!

Antes que eu publicasse o texto, o Grêmio conseguiu efeito suspensivo para as punições de Rever, Richard Morales e Leo. Foi uma batalha não só do jurídico do Grêmio mas de todos os gremistas que mandaram e-mails para a mídia, postaram comentários nos principais sites da Internet e que, de alguma forma, se manifestaram contra esta barbárie que estão cometendo com o Grêmio.

Missão cumprida. Agora podemos ficar tranqüilos nas nove rodadas restantes e certamente o campeão vai ser a equipe mais aplicada. Mas, por que na minha mente ainda se escuta uma voz dizendo: "cuidado... abre o olho"? Porque sabemos que não acabou, sabemos que a única coisa que mudará será o cuidado que este pessoal tomará para não dar tão na vista. Protestaremos até o fim do campeonato, uma forma de protesto preventivo.

Tivemos uma semana cheia e conturbada, o que fez com que meu texto, apesar de maior do que de costume, não tivesse espaço para todos os assuntos importantes que ocorreram neste curto espaço de tempo: julgamentos, condenações, efeitos suspensivos, a Geral se separa, a Geral não se separa mais, eleições presidenciais, sondagens européias em nossas revelações, fechando hoje, às 18 horas, com a eleição de um novo presidente do Grêmio (é mole ou quer mais?).

Mas amanhã, quando a bola rolar, esqueçamos tudo isso, porque nada disso terá sentindo sem os nossos onze guerreiros que estarão em campo domingo. Tenho certeza de que levarão consigo todo o sentimento de indignação que estamos sentido agora e, mesmo que seja difícil, lutarão até o fim, mostrando que não é por acaso que contém em nosso hino nacional a estrofe abaixo.
Mostremos valor, constância,Nesta ímpia e injusta guerra;Sirvam nossas façanhasDe modelo a toda a terra.

P.S.: Após o segundo jogo (Grêmio x Flamengo) do tricolor neste campeonato, escrevi o texto intitulado "Contra tudo e contra todos". Fui criticado por alguns pois falava que estava prevendo que o Grêmio seria prejudicado neste campeonato (só não imaginava que seria tão escancarado).


P.S. 2: Quanto custa um teclado novo?

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