quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O nome dele é Marcelo.

Por Silvio Pilau


Imaginem uma empresa. Uma companhia grande, bastante reconhecida em seu segmento. Chamem-na como quiserem. Agora imaginem um funcionário dessa empresa. Não um funcionário qualquer, mas um homem que lá trabalha há quinze anos. São quinze anos de pura dedicação. Um empregado exemplar, que sempre desempenhou suas tarefas com competência e alta dose de profissionalismo.

Certo dia, o chefe de seu setor é demitido. Este era um cargo de grande responsabilidade, verdadeiramente vital para o sucesso da empresa. Os diretores, devido a essa importância, precisavam preenchê-lo de alguma forma o mais rápido possível. Por saberem que o funcionário exemplar conhecia os pormenores da tarefa, colocaram-no na função. Mas deixaram claro: ele atuaria apenas como quebra-galho, até chegar o profissional que realmente assumiria a posição.

O interregno durou aproximadamente dois meses. Neste período, de trabalhador pouco reconhecido, o funcionário exemplar ganhou destaque. Superou as expectativas de todos, gerou bons resultados, mas, em seu íntimo, sabia que sua situação tinha um prazo final. E, como a diretoria havia dito a ele no início de tudo, seu tempo realmente acabou. O figurão contratado para o seu lugar chegou e, humildemente, nosso empregado voltou à sua função anterior.

Nos meses seguintes, ele seguiu trabalhando com o mesmo profissionalismo de sempre. Enquanto isso, o novo chefe, cheio de referências e recomendações, não conseguiu chegar nem perto do seu desempenho no cargo. Os resultados eram fracos e geravam desconfiança. Pouco a pouco, a situação foi se tornando insustentável e o figurão aproveitou uma proposta para cair fora. O funcionário exemplar viu, ali, mais uma chance de provar seu valor. E a diretoria ofereceu uma nova oportunidade.

Mais uma vez, ele soube aproveitar esta ínfima janela para mostrar o seu trabalho. Os resultados voltaram a aparecer e, somados à sua primeira chance no cargo, superavam em muito as estatísticas dos antecessores. Ainda assim, mesmo com os números ao seu favor, mesmo com boa parte dos investidores da empresa apoiando a sua permanência, a diretoria continuava insistindo em não propor a ele a permanência na função.

Muita gente não entendia. O funcionário exemplar tinha o já citado apoio da maioria dos investidores e acionistas da empresa, aqueles que realmente a faziam funcionar. Estes lembravam que nem sempre os figurões dão certo e citavam outros profissionais antes desconhecidos que geraram excelentes resultados para a empresa. Diziam ainda que o dinheiro investido na contratação de um chefe com grande currículo poderia ser economizado e revertido na busca de reforços para a equipe, algo necessário para os objetivos da companhia.

Enquanto isso, o funcionário exemplar continua tapando buraco no cargo. Como sempre, não reclama, não chia e consegue bons resultados. Ele teve a oportunidade. Mostrou sua capacidade. Falta apenas a diretoria da empresa mostrar cojones para bancá-lo.

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