segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Eu te devo desculpas, Jonas.

Por Ricardo Lacerda

Perdão, Jonas. Apesar de achar que todos os adjetivos que já te chamei ainda valem, retiro o pedido de que te vás do Grêmio. Continuo pensando que tu é tosco e acho que não teria vaga nem no meu time da várzea, mas no Grêmio tu tá dando certo. Então, te mantém aí e não desiste nunca. Tu é brasileiro, a gente sabe, mas acima de tudo tem que ser gremista. E tá sendo.

Pausa no texto. Só um minuto.

Rebobine, por favor:

Sábado, 8 de novembro. Trigésima quarta rodada do Brasileirão 2008. Portuguesa X São Paulo no Canindé. Os portuga lá na rabeira do campeonato. Os bambis beliscando a ponta de riba, lá onde estávamos. Borges aos 8, Jonas aos 41. Borges aos 46, Jonas aos 27 do segundo. Feito! O time do Ricky perderia 2 pontos preciosos. A Portuguesa jogava, Jonas era destaque até que Zé Luis faz o terceiro dos são-paulinos aos 42. Merda! Faltavam míseros 3 minutos para o fim do jogo. Pra matar secador, aos 46 Edno erra um gol feito, cara a cara com Rogério Ceni. O São Paulo venceu e Jonas mostrou ali o quanto era gremista. Era um recado à nação azul, branca e negra... algo do tipo “olhem aqui, eu sei fazer gols”.

Pronto. Voltemos a hoje.

Jonas é, ao lado de Adriano Imperador, o atual artilheiro do Brasileirão 2009. Tem 13 gols e isso que nem era titular absoluto duas semanas atrás. Desse total, foram só 2 de pênalti. Poucas vezes me irritei tanto com um jogador quanto com Jonas. Irritava. Hoje, já não me irrito. Acho graça. Ele é assim, e podem escrever: Jonas vai virar lenda. Ele é folclórico. Pra começar, é um atacante que sequer sabe comemorar seus gols. Já ouviram falar em vergonha alheia? Pois é, sinto vergonha por Jonas quando ele sai fazendo aquelas dancinhas ridículas ou então apontando o dedo a lá Clint Eastwood – a lá Ronaldo ou a lá Adriano.

Mas aí eu paro e penso: “E eu com isso que é ridículo, é gol do Grêmio, porra!”. É gol do Jonas, por mais incrível que pareça. Começam a chamá-lo de anti-herói. Não acho que seja isso. O clássico anti-herói brasileiro é o Macunaíma de Mário de Andrade, personagem cheio da malandragem, vadio que se dá bem, etc etc. Não é o caso. A impressão que tenho sobre Jonas é até mesmo de que lhe falta malandragem. Por outro lado, lhe sobra esforço. Nosso 9 parece ter encarnado aquele lema do governo federal: “Sou brasileiro e não desisto nunca”. Assim, compensa todo o resto. Não sei dizer se ele é sortudo ou azarado. Na Libertadores, ao errar três vezes um gol feito, no mesmo lance (!), foi taxado de “el peor delantero del mundo” por um jornal espanhol. Malditos jornalistas, mal sabiam eles que estava ali o cara que mais sacudiria redes no Brasileiro 09 até agora e, Oxalá, até o fim do campeonato.

Contra o Botafogo, no 3 a 3 de poucos dias atrás, fez um gol dos mais engraçados. Chuta, bate na trave, volta, bate na cabeça, insiste, chuta, goool! Perseverança pura. A cara do Grêmio. Sin perder la raza jamás.

Contra o Náutico, balãozinho dentro da área (!) e goool! Lance de craque ou o destino sorriu para o atleta esforçado? Assim anda Jonas, até mesmo a sonhar com a Seleção. Alguém que não seja sua mãe consegue imaginá-lo vestindo a amarelinha, tabelando com Kaká, tocando bola para Luís Fabiano!? Que momento mágico seria.

Por enquanto, nos contentamos em ver Jonas tabelando com Maxi. Com o argentino recuperado, acho que Jonas pode evoluir ainda mais. Contra o Goiás, essa dupla tem que funcionar...

Desculpa, Jonas. O texto, hoje, é pra ti. Não vamos falar muito nos rumos do Grêmio.De vilão a herói, temos em Jonas a esperança da ponta de cima. “Eu sou foda, batam palmas pra mim”, esbravejava um renegado Aílton contra a Portuguesa em 95. Se Gabiru fez gol de mundial, quem somos nós para falar mal de Jonas? A propósito, quem são ELES para rir de Jonas, que vai meter gol no Grenal que se aproxima? É assim que queremos ver o nosso camisa 9. Falar de Jonas já está virando caso de família. É como aquela história “eu posso falar mal da minha irmã, mas tu não!”.

Jornais espanhóis, destaquem as peripécias de Jonas. Façam ecoar as tosquices de nosso artilheiro bufão na Grécia. Seguir a falar mal de Jonas, para que ninguém o compre, me voy.

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