quarta-feira, 3 de junho de 2009

MEU PRIMEIRO GRÊMIO.

Por Cristiano Zanella


Nasci no Hospital Fêmina, em Porto Alegre, no dia 25 de agosto de 1971, e mesmo antes de acordar para o mundo já haviam decidido as cores da minha história. Meu "tip-top" em azul, preto e branco deixava evidente que o meu destino futebolístico estava traçado e escrito nas estrelas. Mas, ao longo dos anos 70, era difícil a vida de um pequeno gremista. Os coleguinhas, na maioria colorados, vibravam com seu time vitorioso, seu novo e reluzente estádio, suas contratações milionárias; para nós, gremistinhas, restava invejar as conquistas tri-nacionais do nosso tradicional adversário, então pioneiras no estado. Era brabo!

Tanto que o meu primeiro Grêmio foi o Campeão Gaúcho de 1979! É claro que, antes disso, teve o Grêmio de 77, campeão do estadual (na época bastante valorizado) com o inesquecível gol de André Catimba, que nos libertou de quase uma década de silêncio e sofrimento. Mas o meu primeiro Grêmio, mesmo, pra valer, "às ganhas", foi o de 79 – o Grêmio que abriu os caminhos que nos levariam rumo a conquistas nacionais, continentais e finalmente ao mundial. O Grêmio de Manguita Fenômeno (o melhor goleiro que tive o privilégio de ver jogar), Ancheta, Vantuir, Paulo César Caju, o Flecha Negra Tarciso, o Canhão Éder Aleixo, Baltazar de Deus e outros craques. Era o embrião do time que conquistaria o Brasileirão de 81, e era o meu primeiro Grêmio!

Lembro que o anel superior do Olímpico ainda não estava completo, mas a união fazia a força dentro e fora de campo, e em poucos anos teríamos nosso estádio finalizado, o projeto era o "Olímpico Total"! O placar funcionava manualmente, era operado através de um sistema de placas que eram substituídas exibindo os números da partida. A camisa (acreditem!) era tricolor, com listras verticais em azul, preto e branco – sem frescuras ou modernismos. O churrasco de domingo era na Mosqueteiro! Os talões do "Bolão do Grêmio", previamente adquiridos pelo meu pai Renato José Zanella, garantiam nosso ingresso no estádio durante o ano todo, e ainda davam o direito a concorrer a prêmios como carros, motos, eletrodomésticos (não ganhamos o automóvel, mas sim um belo faqueiro que durante anos nos serviu com excelência, sendo finalmente aposentado em nossa casa de praia)! Nosso companheiro de campo era o lendário Tio Nelson, uma baita gremista e botafoguense, que há muito já foi torcer (e tomar os seus drinques) através da eternidade, na companhia de Lara, Everaldo e outro imortais. Nossas conquistas eram verdadeiras, na base da vontade, da emoção e da superação, e os protagonistas eram gente como a gente – ao contrário de hoje em dia, o futebol não era apenas um mero planejamento mercadológico dominado por empresários inescrupulosos e especuladores financeiros. O Brasil tava com esperança no Brasil, era "um país que vai pra frente, de uma gente alegre e tão contente, de um povo unido e de grande valor, um país que canta, trabalha e se agiganta"! Ah, que tempo bom! E o melhor estava ainda por vir...

Lembram? E como foram tricolores os anos 80 e 90! A primeira Libertadores, o mundo aos nossos pés, a Libertadores outra vez, e novamente o Brasileirão, além das inúmeras Copas do Brasil e disputados Gauchões! Nossos ídolos eram Hélio Dourado, Koff, Paulo Santana, Camelinho, até mesmo a Terezinha Morango passou pro nosso lado; dentro de campo Telê, Catimba, depois Fantoni, Éder, Baltazar, o Cabeção Ênio Andrade, Leão, Paulo Isidoro, De León, Caio, Tita, Baideck, China, Espinosa, Renato Portaluppi, Mazaropi, Alfinete, Luiz Eduardo, Cuca, Lima, Assis (sim, até mesmo o filhote mais querido da Miguelina!), Edinho, Paulo Egídio, Dener, Danrley, Felipão, Adilson, Rivarola, Arce, Dinho e Goiano, Arílson, Paulo Nunes e Jardel; já no século vinte o capitão Zinho, Sandro Goiano, Lucas, Carlos Eduardo, Anderson, grandes e inesquecíveis personagens que encantaram gerações e continuam vivos no imaginário tricolor.

Pois assistindo ao filme "1983: o Ano Azul", segunda-feira à noite no Iguatemi, lembrei-me com saudade dos tempos em que o meu Grêmio era um verdadeiro desbravador – um time inconformado, obcecado pela vitória, ávido por novas conquistas. Faz tempo! Não existia tv a cabo, muito menos internet ou telefone celular, e a globalização econômica, cultural, social e midiática era ainda um projeto capitalista (mas que em breve iria dominar o mundo, reduzindo-o a uma tela iluminada orientada pelo clique de um mouse)! Muitas das crianças, adolescentes e jovens que estavam na sessão de pré-estréia do filme infelizmente não viveram esta verdadeira era de ouro tricolor (e onde estavam os integrantes do elenco atual? Vendo a novela?)! Era um tempo em quer as pessoas se relacionavam, se encontravam, trocavam experiências, sempre com respeito e educação, conceitos básicos das relações sociais – e, neste ponto, o futebol tinha (quero crer que ainda tem) um papel fundamental!

O meu Grêmio, o Estádio Olímpico, fazem parte desta história, desta tradição! É evidente que novas histórias serão contadas, grandiosas e inéditas conquistas serão alcançadas e novos ídolos surgirão, mas com certeza não com a mesma intensidade do que o foram no século passado! Tchê, quanta saudade... É como diz Paulinho da Viola: "Eu não vivo do passado, mas o passado vive em mim"; ou Belchior: "Nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não, você pode até achar que eu estou por fora, ou então que estou inventando, mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem?". Ficam o passado e as lembranças, impressas em imagens nítidas em nossas retinas... O importante é que emoções eu vivi!!!

Pra cima, pra cima, vai pra cima tricolor! Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe Grêmio! Seremos campeões! É com o Grêmio sempre, onde o Grêmio estiver!!!

Nenhum comentário: