quinta-feira, 14 de maio de 2009

É PRECISO JOGAR.

Por Silvio Pilau

Não existe torneio igual à Libertadores. Talvez o único campeonato que possa ser equiparado com nossa competição continental é a Liga dos Campeões da Europa. Ainda assim, tenho minhas dúvidas. Claro que lá os milhões de dólares rolam soltos e a qualidade das partidas é maior, com cada duelo recheado de craques para todos os lados. Mas não existe a rusticidade que a Libertadores tem. Lá não é um torneio de tanta catimba, de tanto brio, capaz de exigir o próprio sangue dos atletas.

A Libertadores da América sempre foi assim. Um torneio disputado por homens capazes de se sacrificar para alcançar uma glória. Jogadores que colocavam na ponta da chuteira todos os seus sonhos, desejos e, acima de tudo, a própria vida. Não há lugar para medo. Não há espaço para frescuras. Uma mera hesitação, um rápido esgar de pavor no rosto, um átimo de segundo onde não se doa 100% podem fazer a diferença no resultado de uma partida e separar o sucesso do fracasso na maior competição das Américas.

Eis, então, que vem a Conmebol querer fazer da Libertadores aquilo que ela não é. Não sou um Paulo Vinícius Coelho, mas duvido que algo semelhante tenha acontecido em toda a história da competição. Não lembro de duas equipes passarem de fase sem jogar. São Paulo e Nacional simplesmente não precisaram entrar em campo nas oitavas-de-final com a alegação de ser perigoso jogar no México contra seus adversários. A Conmebol entrou na onda, proibiu as partidas por causa da gripe do porco e os mexicanos caíram fora.

Palhaçada. Sem querer ser insensível, hoje sabemos que a tal da gripe não é uma epidemia que vai dizimar parte da população. A recusa dos são-paulinos e dos uruguaios em jogar lá não é somente uma postura ridícula para uma equipe de futebol, mas uma vergonha para um torneio como a Libertadores da América. Pior do que isso, somente a atitude da Conmebol em corroborar a covardia das duas equipes. Por que não, então, colocar no lugar dos mexicanos os dois clubes logo abaixo na classificação geral? Difícil entender.

Mas nada podemos fazer. Decisões como essa estão além de nossa alçada. A nós, cabe apenas fazer aquilo que a Libertadores pede: jogar. E jogando estamos. Não com o melhor futebol do mundo, mas um bastante eficiente. As duas vitórias contra o San Martín solidificaram ainda mais a melhor campanha da Libertadores. O Grêmio continua com fragilidades, é verdade, mas também com afirmações. Agora, com a confirmação da chegada de Autuori, esperamos que estes defeitos sejam reduzidos ao máximo, porque as pedreiras estão para começar e cada detalhe é crucial.

Por uma certa ótica, o fato de ter jogado as oitavas-de-final é melhor para o Grêmio. Os embates contra o San Martín foram tranquilos, sem grandes desgastes. Mas serviram para deixar ainda mais claro para os jogadores o sentimento da Libertadores. A cada partida, o espírito da competição se finca no peito de cada gremista. São Paulo e Nacional, nesse sentido, largam atrás. Se isso vai fazer diferença, não sei. Só sei que não existe competição como a Libertadores. E, para vencê-la, é preciso jogar.

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