quinta-feira, 26 de março de 2009

SORTE E AZAR

Por Silvio Pilau


Vou fazer uma previsão. Não sou Nostradamus, Mãe Diná ou qualquer um desses charlatões. Mas vou fazer uma previsão. Estão prontos? Então vai lá: a partir de agora, o Grêmio vai parar de perder gols na Libertadores. Se duvidam, esperem. Aguardem a próxima partida. Anotem isso que eu escrevo aqui e cobre de mim depois. De agora em diante, os atacantes gremistas vão começar botar a bola na rede nas chances criadas. Não em todas, claro. Mas não vai mais acontecer essa história de desperdício de gols.

Tá, pera lá. Vocês devem estar se perguntando no que eu me baseio para chegar a essa conclusão. Não é lendo folhas de chá, borras de café, rugas nas mãos. Não tenho idéia de como se faz isso. A minha previsão é baseada unicamente na perigosa relação entre sorte e azar. Até os quarenta e um minutos do segundo tempo do jogo de ontem em Cochabamba, o Grêmio estava com azar. Sim, azar. É impossível que tantos gols perdidos sejam culpa dos jogadores. Nenhum deles é ruim a ponto disso.

No entanto, nesse determinado minuto, tudo mudou para o Grêmio. Ou melhor, vai mudar. Até então, o Tricolor jogava bem, criava situações, mas, por algum motivo que foge à nossa compreensão, a bola não entrava. Ontem, em dez minutos de jogo, já tínhamos colocado duas bolas na trave. O azar estava perseguindo o Grêmio na Libertadores. Para sair um gol, para nossos jogadores poderem comemorar, era preciso muito esforço e teimosia. Era preciso bombardear o goleiro adversário para marcar um mísero tento. Azar.

Mas tudo vai mudar a partir de agora. Aos quarenta e um minutos do segundo tempo, Tcheco deu um chute tenebroso em uma cobrança de falta. Não foi um cruzamento. Não foi um chute a gol. Juro que não sei qual era a intenção dele. Foi, praticamente, um recuo. Um arremate fraco e direto nas mãos do goleiro. A bola viajou sem pretensões, sem propósito, sem pai nem mãe. Picou no gramado e já estava pronta para repousar no colo do arqueiro. Os gremistas já xingavam Tcheco pelo chute. Os torcedores do Aurora já respiravam aliviados.

Então, a sorte sorriu para o Grêmio. Pela primeira vez em toda a Libertadores, a o Tricolor foi abençoado pela sorte. A bola sem esperanças de Tcheco chegou, como previsto, às mãos do goleiro do Aurora. Mas ele deixou escapar. De forma ridícula, ele deixou escapar. Como uma criança irrequieta, ela não quis parar. Fugiu do abraço do arqueiro e, sem pressa, foi dormir no fundo do gol. Mal sabia ela o quanto essa atitude significaria para o Grêmio. Mal sabia ela que estava fazendo a sorte jogar a favor do Grêmio.

Era isso o que faltava para o Grêmio até aqui. Sorte. Somente sorte. Com o frango do boliviano, o azar foi embora do Olímpico. Substituição na equipe do Grêmio. Daqui pra frente, nada mais de milhões e milhões de chances desperdiçadas. Daqui pra frente, gols. Vitórias. A sorte passou para o nosso lado. Que seja sorte de campeão.

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