quinta-feira, 30 de outubro de 2008

LEMBREM-SE DAQUELE SÁBADO

Por Silvio Pilau


Foi há quase três anos. Lembro bem. Era um sábado bastante quente em Porto Alegre. Provavelmente, estava ainda mais quente onde tudo aquilo acontecia. Aqui, o final de tarde trazia uma noite negra, que poderia durar mais um longo ano. A confiança que dormira pacificamente com todos os gremistas na noite de sexta-feira ameaçava fugir, escapando como areia por entre nossos dedos. A segurança de que tudo daria certo transformava-se em dúvida. Quase desespero.

Começou com um pênalti para o adversário, ainda no primeiro tempo. A maravilhosa defesa daquela trave trouxe alívio aos gremistas. Mas tudo piorou no segundo tempo, em um apito mágico, capaz de gelar milhões e milhões de corações. A marcação do segundo pênalti fez com que um longo filme passasse por todos os nossos olhos. Um filme sofrível, com cenários precários e uma narrativa entruncada. O típico filme que ninguém gostaria de assistir mais uma vez.
Para piorar, o vermelho começou a aparecer. Ainda mais preocupante que o uniforme do adversário, era a cor no cartão que teimava em subir na mão daquele juiz. Uma, duas, três, quatro vezes. O placar em branco. Um pênalti contra. E quatro jogadores a menos. Faltavam apenas poucos minutos. A torcida, a milhares de quilômetros de distância, acompanhando pela televisão ou pelo rádio, permanecia estática. O celular não parava de apitar. Mensagens dos rivais, já preconizando um novo ano no martírio.

Mal sabiam eles que nenhum gremista perdia a esperança. Havia, claro, medo. Até um certo estado de choque. Mas a confiança perdurava. A certeza de que o Grêmio sairia daquela situação era maior que tudo.

O resto é história. O resto é aquilo que ficou conhecido como A Batalha dos Aflitos, uma das maiores conquistas de um clube em toda a história do futebol. O que ficou foi a lição de entrega e sacrifício, o exemplo de superação e indignação. Foi a confiança cega de uma torcida e de um clube que dobrou as leis da natureza e promoveu aquilo que pode, sim, ser chamado de milagre. Foi a comprovação de que o Grêmio não é um mero time, mas uma entidade abençoada pelos deuses, destinada a provar seu valor a cada novo dia.

Hoje é um desses dias. Ontem, deu tudo errado. Os adversários venceram e a atuação foi, novamente, preocupante. A equipe ontem perdeu não somente para um time bem armado, mas para si mesmo. Perdeu para a própria afobação, para o nervosismo, para a ânsia de vencer a qualquer custo, sem qualquer cuidado. Deixou os outros candidatos ao título se aproximarem e colocou ainda mais fogo na reta final do campeonato. Alguém, no entanto, pensava que seria fácil?

Mas hoje é o dia de se recuperar. De começar, novamente, a mostrar o valor deste clube sem igual. O valor de uma torcida e a mágica dessa camisa que pode qualquer coisa. Hoje, é dia de lembrar daquele sábado, há quase três anos, quando a lógica perdeu sentido e quando o imponderável tornou-se regra. É dia de lembrar dos piores momentos daquela tarde e recordar como, quando menos se esperava, o Grêmio deu a volta por cima.

Se nem mesmo naquele dia eu perdi a esperança, por que perderia agora?

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