segunda-feira, 6 de outubro de 2008

GLÓRIA EM TRÊS ATOS

Por Silvio Pilau


Não sei se vocês lembram, mas, logo após Batalha dos Aflitos, um jornal, acredito que britânico, publicou uma reportagem comparando o Grêmio a Rocky Balboa. Sim, o Garanhão Italiano da série de maior sucesso da carreira de Sylvester Stallone. A matéria fazia uma analogia entre a capacidade de Balboa em apanhar durante uma luta inteira para, no final, juntar forças não se sabe de onde e derrubar o adversário de uma vez por todas.

Trago esta lembrança à tona porque a trajetória gremista em 2008 também pode ser comparada à Sétima Arte. No caso, não digo exatamente a Rocky Balboa, mas à própria estrutura da imensa maioria dos filmes e histórias em geral, divididos em três atos. Claro que isso muito varia, por vezes, os três atos são claros; em outras, menos perceptíveis; e há também as produções nas quais esta divisão não existe.

O Grêmio atual encaixa-se na primeira opção. A jornada da equipe no Brasileirão é um caminho em três atos escancarados, tal qual um filme hollywoodiano no qual o mocinho vence ao final. É uma produção modesta, mas realizada por artesãos competentes, que conquista as platéias e leva-as a grandes e inimagináveis emoções. Os dois primeiros atos já foram deixados para trás. O terceiro começou no último sábado às quatro horas da tarde.

Senão vejamos. O primeiro teve início lá pelas bandas de maio. Foi o momento da apresentação dos personagens e da trama. Começaram a pintar alguns dos candidatos ao título e ao rebaixamento. O Grêmio aninhou-se no grupo de cima, mostrando que não entrava para figurar, mas para brigar pelo posto mais alto. Assim, foi indo, surpreendendo, assumindo a liderança e firmando-se ao lado dos prováveis campeões.

Eis que começa o segundo ato, o das dificuldades. O caminho do mocinho jamais é ausente de percalços. Fosse assim, qual seria a graça da história? Então, o Tricolor começou a tropeçar. Perdeu uns pontinhos aqui, foi abatido ali, caiu inclusive dentro de casa. Este segundo ato trouxe dramaticidade e emoção à narrativa. Mais do que isso, plantou as sementes para o promissor ato final. Mas, para isso, era preciso um momento definitivo. Uma situação que fizesse com que o mocinho, no caso o Grêmio, acordasse para dar a volta por cima.

Veio, então, o Gre-Nal.
A goleada para o maior rival foi exatamente a porrada que o Tricolor precisava. Foi o ponto de transição para encerrar de vez as dificuldades do segundo ato para começar o terceiro, onde tudo novamente se acerta e encerra com o final feliz. O terceiro ato começou no sábado, com a vitória contra o Botafogo. Com o orgulho abalado, os jogadores, comandados por uma gurizada de talento, deram a volta por cima, conquistando aquela que talvez seja a vitória mais importante do Grêmio em todo o campeonato.

Não falta muito para o filme acabar. No terceiro ato, porém, os pontos soltos da história são amarrados. O mocinho se dá bem. O vilão é punido. Ainda teremos muita emoção pela frente, mas os gremistas sabem o final desse filme. Sabem que esta produção não terá mais grandes surpresas. É uma história previsível, que já vivemos milhões de vezes. Uma narrativa em três atos, que se encerra apenas com o título. Com a conquista. Com a glória.

Bem o tipo de filme que não cansamos de assistir.

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